A consultora BMI alertou esta terça-feira, que os golpes de Estado no Níger e Gabão levaram ao aumento global dos riscos políticos na África Subsariana, fazendo cair o Índice de Risco Político a Curto Prazo (pontuação baixa significa risco elevado).
Numa nota a que a Lusa teve acesso, os analistas da consultora detida pelos mesmos donos da agência de notação financeira Fitch Ratings escrevem que “os riscos políticos na África Subsariana aumentaram ligeiramente em termos globais. As tomadas de poder pelos militares no Níger e, mais recentemente, no Gabão aumentaram os níveis de risco regional”.
“A pontuação média do Índice de Risco Político a Curto Prazo (STPRI, na sigla em inglês), ponderada em função do PIB, caiu de 50,4 em Julho para 50,3 num total de 100 pontos – a pontuação mais baixa corresponde ao risco mais elevado – no início de Setembro, o que implica risco político ligeiramente mais elevado”, secunda a nota.
Contudo, a instabilidade política nos dois países referidos foi compensada pelo abrandamento dos riscos em alguns mercados individuais, assim como pela diminuição das pressões inflacionistas e melhoramento do ambiente político, nomeadamente em Moçambique, Lesoto e Serra Leoa.
No caso de Moçambique, a consultora manifesta a expectativa que “a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) obtenha uma vitória nas eleições de Outubro de 2024, apesar das actuais insurreições em curso”, auspiciando um “bom processo de decisão política nos próximos trimestres”. “A forte posição da FRELIMO na legislatura diminuirá o risco de mudança de políticas”, sublinha a nota.
Em contrapartida, afirma ainda a consultora da Fitch, “a principal formação da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), enfrentará ventos contrários devido ao seu historial limitado em matéria de governação e à sua actividade de insurreição no período 2013-2021”.
O aumento dos riscos no Gabão, associado ao golpe de Estado no passado dia 30 de Agosto, que depôs Presidente Ali Bongo Ondimba – declarado vencedor das eleições presidenciais de 26 desse mês e no poder desde 2009, após a morte do seu pai, que foi Presidente desde 1967 – é justificado na nota por uma “considerável incerteza política a curto prazo” decorrente da tomada do poder pelos militares.
“O país sofre de uma elevada taxa de desemprego (21,5% em 2022) e de desigualdade, o que levou ao aumento da insatisfação pública com a liderança de Bongo”, escreve a BMI, recordando que líder do golpe, general Brice Oligui Nguema, empossado entretanto Presidente interino, “anunciou o plano de realizar eleições dentro de dois anos”.
No Níger, estima a consultora, os riscos políticos “continuarão a ser elevados” na sequência do golpe de Estado de 26 de Julho. “Têm-se registado regularmente manifestações relacionadas com o golpe, em especial nas imediações das embaixadas ocidentais”, assinala.
Embora as autoridades nigerinas tenham apelado ao embaixador francês e às forças francesas para que abandonassem o país, o Governo francês insiste que não reconhece a autoridade da junta militar, e tanto o embaixador como as tropas francesas permanecem no local. Os Estados Unidos, como medida de precaução, transferiram alguns dos seus efectivos militares de Niamey para outra base em Agadez, no Níger.
“Apesar do aumento das tensões, esperamos que nos próximos meses seja encontrada uma solução diplomática para a crise política no Níger”, acrescenta a consultora, que sublinha a fragilidade de uma intervenção militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), sobretudo para a Nigéria.
“Uma intervenção militar por parte da CEDEAO teria consequências negativas para todas as partes” e a Nigéria “enfrenta riscos internos significativos, dissuadindo assim o país de entrar num conflito externo”, escreve a BMI.
A consultora da Fitch prevê finalmente o aumento dos riscos de agitação social ao longo das próximas semanas na Libéria, no período que antecede as eleições gerais de 10 de Outubro, e à medida que a inflação continua a aumentar.
“Calculamos que os partidos da oposição procurem tirar partido da fraca situação macroeconómica, o que poderá conduzir a um aumento da agitação social”, escreve a BMI, que prevê a reeleição do Presidente George Weah numa segunda volta.
Deixe uma resposta