Open House Maputo: Uma viagem aos “inacessíveis” edifícios icónicos da cidade

Open House Maputo: Uma viagem aos “inacessíveis” edifícios icónicos da cidade

A cidade de Maputo é bela, por tudo menos nada, em particular, pelo esplendor arquitectónico que surpreende a todos. Os edifícios seculares e actuais lhe atribuem a singularidade entre as metrópoles mundiais, mesclando histórias (e estórias). Quem a visita retorna a sua cidade querendo voltar a Maputo, pois está aberta para todo o mundo….

A propósito, pela primeira vez, a capital moçambicana vai acolher o Open House (OH), uma viagem turística guiada para infraestruturas icónicas, normalmente, inacessíveis a maioria das pessoas. Trata-se de um conceito worldwide criado em 1992, em Londres (Inglaterra) para possibilitar aos citadinos contemplar as “grandes casas” que representa(va)m o património histórico-cultural daquela sociedade.

“O Open House permite que muitas dessas infraestruturas restritas, onde até funcionam instituições públicas, estejam abertas a pessoas comuns”, disse a arquitecta e embaixadora do OH Maputo, Carla Cortês.

O evento, marcado para 29 e 30 de Outubro, vai permitir absorver “com os olhos de um arquitecto” a paisagem urbana de Maputo através do acesso a 20 edifícios, incluindo o mundialmente conhecido Hotel Polana; Banco de Moçambique; Embaixada americana; Casa Família Ferreira dos Santos e a Residência do Embaixador de Portugal.

Carla Cortês estudou a arquitectura nacional produzida entre 1950 e 1975 e já contribuiu para a edificação de vários edifícios no país. Ela contou, com alegria e emoção, o facto de pessoas de outros continentes admirarem e reconhecerem a genialidade das construções colónias em Moçambique.

“O interessante também é o facto de em Moçambique [Maputo e outras cidades] existir um modelo que construções espetaculares não permitidas em Portugal, tornando-o único e irreverente. Aí nós vemos muitas vezes como as colónias estiveram mais avançadas do que as metrópoles. Nós precisamos que este reconhecimento também paire entre nós”, disse.

O Open House Maputo também vai servir para o público reviver a vontade de se construírem edifícios belos e inovadores nas colónias, por exemplo a Casa de Ferro, que podia ser aplicável na Europa, mas não em África por causa do clima.

“Digo, por experiência própria, que os que já visitaram Maputo ficaram com um carinho especial da cidade. Algumas cidades africanas economicamente melhores do que Maputo não têm a mesma beleza”, afiançou Carla Cortês.

A embaixadora do OH Maputo considera o evento uma oportunidade para os gestores do património público olharem e reflectirem sobre a riqueza existente no país.

“Eu não sei se eles têm essa consciência. O que nós estamos a tentar fazer é despertar o olhar para a qualidade. Entendemos que há qualidades arquitectónicas que precisam de ser discutidas. Esta oportunidade de visitar é que vai trazer um despertar”, disse.

Maputo vai ser a segunda cidade africana depois de Lagos, na Nigéria, a receber esse modelo de viagem turístico-cultural, implementado em mais de 50 países de todas as latitudes.

Como disse Carla Cortês, outro dos propósitos do evento é criar mobilidade para os citadinos terem uma outra experiência de estar na cidade.

A linha da frente do OH Maputo teve apenas três meses para organizar evento. O plano de acção já mereceu elogios da direcção do Open House Worldwide, e em Maputo será carregado de inovações.

Nesta edição os participantes poderão imergir para o mundo virtual através de um aplicativo que, entre outros, permitirá ouvir o historial narrado acerca do edifício que estiveram a visitar no momento. “O mesmo poderão fazer através de um link” disponível no portal openhousemaputo, através do qual os interessados em participar do OH Maputo devem cadastrar-se.

“Isto é interessante porque ainda que se conheça determinado edifício, uma narração vai incitar um novo olhar, levando a apreciação de coisas muitas vezes ignoradas, como o pavimento, a fechadura, os detalhes de uma porta ou janela, etc. Isso é que vai gerar riqueza”, referiu.

No mundo “terra a terra” o trabalho envolve cerca de 150 voluntários devidamente capacitados sobre o historial de cada edifício. “São estudantes de arquitectura em algumas universidades nacionais que servirão como guias das visitas”.

Em determinados edifícios as visitas serão guiadas pelos arquitectos que os projectaram. “E aqui vai haver um campo para a troca de impressões e passagem de feedback sobre a edificação”.

“Na qualidade de arquitecta, a minha maior expectativa é criar este «despertar» e elevar o nível de critérios sobre os acabamentos dos edifícios etc., porque é toda esta experiência que vai validar o trabalho de um arquitecto”, referiu Cortês, vincando que “isto vai até inspirar as pessoas a terem gosto pelas construções bem feitas e implementar em seus projectos particulares”.

A ideia é, igualmente, colocar o Open House Maputo no calendário turístico-cultural moçambicano e criar uma cadeia de valores onde empresa e particulares possam lucrar. “E, para já, estão garantidas mais três edições nos próximos três anos, onde já poderemos agregar outros festivais da cidade”.

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