Moçambique está “à beira de grave crise” nos combustíveis, alerta petrolífera

Moçambique está “à beira de grave crise” nos combustíveis, alerta petrolífera

O presidente da petrolífera Puma em África disse, esta quarta-feira (19), em Maputo, que Moçambique está à beira de uma “grave crise energética” por não permitir que os postos subam o preço dos combustíveis, que assim podem acabar dentro de dois a três meses.

“Moçambique está hoje à beira de uma grave crise energética no que respeita a hidrocarbonetos, por duas razões: o preço é muito baixo face ao custo real do produto e quem subsidiam esta situação são as empresas do mercado petrolífero”, alertou Fadi Mitri, em conferência de imprensa.”O Governo deve cerca de 25 mil milhões de meticais à indústria das gasolineiras e esta é uma situação insustentável”, referiu o líder de uma das operadoras no mercado.

“Quando uma empresa não consegue fazer dinheiro suficiente num negócio, quando está a perder, a solução é reduzir a actividade”, referiu.

Impossibilitadas de ajustar os preços, tabelados pelo Governo, Mitri contou que, no primeiro trimestre, as distribuidoras de produtos petrolíferos reduziram a importação de combustíveis em 54% face ao mesmo período de 2022.

“Logo, dentro de dois a três meses não vai haver combustíveis em Moçambique”, antecipou.

De acordo com o presidente da Puma em África, o aumento mensal da dívida de Moçambique coloca em causa a reputação das gasolineiras junto da banca, que começa a rejeitar propostas para novos empréstimos, principalmente entre as distribuidoras moçambicanas de menor robustez.

“Quando a dívida se prolonga, os bancos começam a rejeitar este pedido. As gasolineiras moçambicanas são as que mais sofrem, na medida em que as internacionais têm maior robustez financeira”, explicou.

Para aquele responsável, a solução para travar uma crise de combustíveis em Moçambique “é simples: os preços devem subir”.

“Os preços devem subir, no gasóleo, em 4,55 meticais por litro. Na gasolina não é necessário. Isso não significa que haverá um reembolso imediato dos 25 mil milhões de meticais que o Governo deve, mas, com esta medida, a dívida começa a cair”.

“Se a dívida começar a cair, o mercado vai perceber que o Governo está a reagir”, ao fim de conversações que duram “há 18 meses” e “poderíamos começar a olhar para o futuro e os bancos ficariam felizes”, explicou.

Desde 01 de Julho de 2022, data do último ajuste, a gasolina passou a custar 86,97 meticais e o gasóleo passou para 87,97 meticais por litro.

Fadi Mitri defendeu menos interferência do Governo na definição do preço do combustível, que deriva da dinâmica do mercado internacional.

Para a Puma Energy, a localização geográfica de Moçambique, banhada pelo Índico, coloca o país como um parceiro estratégico, na medida em que o combustível que chega aos países no interior deve passar pelos portos moçambicanos, mas a situação da dívida pode obrigar a Puma Energy África a repensar as suas estratégias.

“Pensamos que Moçambique deve ser um `hub` (ponto de distribuição) para Zimbabué, Maláui e Zâmbia, mas infelizmente hoje não é um `hub` eficiente”, concluiu.

O último reajuste de preços nos postos de combustíveis em Moçambique ocorreu em Julho de 2022.

As queixas das gasolineiras em Moçambique, que está entre os países com os preços de combustíveis mais baixos do continente, começaram em meados de 2022, quando a Associação Moçambicana de Empresas Petrolíferas alertou pela primeira vez que as dívidas do Estado podiam paralisar a distribuição –  num momento de volatilidade de preços no mercado internacional com a invasão russa da Ucrânia e a inflacção global.

A Lusa contactou o Ministério dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, que remeteu declarações para momento oportuno. (RTP)

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