Familiar de vítima de rapto contacta FBI por desacreditar na justiça nacional

Familiar de vítima de rapto contacta FBI por desacreditar na justiça nacional

O fenómeno dos raptos e sequestros, que assolam Moçambique há mais de uma década, já tomaram proporções alarmantes. Mas nem por isso se tem visto uma acção enérgica por parte das instituições do Estado para combater os crimes. Aliás, parece haver certezas de que pessoas de altas patentes estejam envolvidas nos sindicatos de raptos e criminalidade organizada.

Na quarta-feira (07) da semana passada, o Presidente da República, Filipe Nyusi, apresentou o seu último relatório sobre o Estado Geral da Nação. E, no capítulo sobre os raptos, lamentou a falta de colaboração das vítimas e de seus familiares, que têm sido o maior alvo.

Um familiar de vítima de rapto, que confessou ter se mantido calada por vários anos, decidiu, na última sexta-feira (09), revelar como o Estado tratou o particular caso que se abateu sobre sua família.

Contou que seu pai foi vítima de rapto, há alguns anos, quando saía de uma mesquita para casa. Os raptores exigiram resgate de 10 milhões de dólares. Ele, o filho, um indivíduo de altas influências – que até foi deputado da Assembleia da República – procurou ajuda junto de altas individualidades do Estado.

Na época, na tentativa de resolver o caso, falou pessoalmente com o Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) e com o Primeiro Ministro. Teve à disposição cerca de duas dezenas de agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC). Estes, pelo menos duas vezes ao dia, se dirigiam a sua casa para seguir as investigações. Disse que forneceu os contactos dos raptores ao SERNIC, mas não houve solução. Recorreu aos seus contactos nas empresas de telefonia das quais obteve o que precisava para fornecer às autoridades. Mas isto também não resultou em posteriores avanços significativos por parte das autoridades nacionais.

“Depois de 18 dias eu cheguei a conclusão de que estava a perder tempo. Eu tinha o número de telefone do raptor. Eu dava todas as indicações [às autoridades]. Mas se o Estado não faz nada, o que é que eu posso fazer”?, questionou, Moulana Nazir.

O membro da comunidade islâmica revelou que a letargia do Estado o levou a procurar outras alternativas de solução.

“A primeira ameaça que recebemos foi de 10 milhões de dólares. Hoje estou a abrir o jogo. Eu até contactei com o FBI [Federal Bureau of Investigation]. Contactei com secretas internacionais, para libertar o meu pai”, destapou o véu.

Contou que a família pagou a primeira prestação aos raptores, “e no dia seguinte eu recebo a ligação para ir ao SERNIC para revelar o valor do pagamento”.

Mais ainda, o denunciante afirma que existem alguns elementos do Estado de alta patente em conluio com o sindicato de raptos, e acusa o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) de inoperância nesses tipos de casos. “É verdade isto. É a realidade”.

Ele falava durante um encontro entre o Movimento Unido Contra o Crime Organizado (MUCCO) e instituições de justiça nacionais.

“Temos de saber como é que vamos resolver este problema. Se vocês, dirigentes, querem a nossa ajuda, nós estamos prontos para dar. Sempre demos e vamos continuar a dar. Mas queremos solução”, disse.

Nazir notou que Moçambique, a par da África do Sul, são os únicos países na região com dificuldades para lidar com crimes de raptos. Exemplificou o facto de, há cerca de duas semanas, ter ocorrido e ter sido imediatamente resolvido uma situação de rapto no Maláui.

Ele disse ainda que foi contactada a embaixada da Índia para pedir ajuda e “eles estavam prontos”. Referiu que intervenção externa carece da anuência do Estado. “Não temos resposta do Governo do dia”, não apenas para este apoio indiano, mas de outros estados para introduzirem no país uma plataforma móvel de operações anti-raptos.

“Contactei os grandes Estados. Disser​am que não pod​iam trazer uma plataforma móvel sem a autorização do Estado, porque é uma questão de Estado para Estado. E quando chegou a altura, eu contactei com várias individualidades​ [moçambicanas] e todas disseram que não pode​riam dar a carta”, revelou. “Esta é a situação”.

Na sua intervenção, o comandante da PRM na cidade de Maputo agradeceu por tudo quanto foi dito no encontro, e que servirá para as matrizes de operação da instituição. (Fonte: STV)

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