Várias pessoas foram burladas em Maputo em esquemas que envolvem depósitos com promessas de juros elevados por entidades não licenciadas, levando o Banco de Moçambique a manifestar “preocupação com a proliferação” destes negócios “criminosos”.
Uma das vítimas, funcionária pública, contou à Lusa que as suas poupanças no valor de 100 mil meticais “evaporarem”, quando uma instituição que pensou que fosse legal “desapareceu” com depósitos de dezenas de pessoas que colocaram lá o seu dinheiro com promessa de juros exorbitantes.
“Com 100 mil meticais, prometiam-me juros de 100% em dois meses, mas fiquei sem o capital e sem os juros”, afirmou, falando no anonimato, porque agora já sabe que se meteu num crime.
O facto de a referida entidade funcionar à luz do dia, em escritórios situados em pleno centro de Maputo, levou muitas pessoas a acreditar que se tratava de uma actividade licenciada pelo regulador financeiro moçambicano.
“As instalações dessa empresa andavam sempre cheias de pessoas que iam lá colocar o seu dinheiro vivo”,
Um homem que também caiu nas malhas do esquema de depósitos fraudulentos narrou que apostou num depósito a prazo de 20 mil meticais, para receber 60 mil meticais, em três meses, mas perdeu tudo, porque as pessoas que lhe fizeram essa promessa desapareceram.
“Quando começaram a surgir desconfianças, porque os primeiros que deviam receber capital e juros só receberam juros, os donos dessa instituição deixaram de ser vistos no escritório”, narrou.
Uma outra vítima contou que dezenas de pessoas estão à procura de uma mulher que fugiu com mais de um milhão de meticais em depósitos, após convencer as vítimas a entregar-lhes o dinheiro sob promessa de um reembolso acompanhado de empréstimos avultados.
“Aquilo que ela prometeu não era o pagamento com juros, era que cada um que fosse parte do negócio receberia os pagamentos de todos os outros de uma só vez, ficando depois a pagar mensalmente até que todos do grupo recebessem. Era um ´xitique rotativo`”, explicou a mulher, um modelo circular de depósito e empréstimos, modelo típico de poupança em Moçambique e países vizinhos.
Os casos têm surgido e levaram o Banco de Moçambique a emitir um comunicado na última semana, manifestando “preocupação com a proliferação, no mercado, de entidades que se dedicam à captação de depósitos de particulares, sem estarem licenciadas para o efeito”.
No comunicado é pedido que, antes de fazerem qualquer depósito, os investidores ou aforadores consultem a lista de instituições autorizadas no portal do Banco de Moçambique – na secção de ‘área de actuação’.
Ao mesmo tempo, o regulador elencou 10 sinais que devem motivar desconfiança.
O banco central fez o alerta para o perfil usual do embuste: “Geralmente, as instituições que actuam ilegalmente na área financeira aderem ao esquema de pirâmide financeira. Caracterizaram pela promessa de ganhos a curto prazo, normalmente na forma de juros sobre os valores depositados”.
Os ganhos sobre capital prometidos por essas instituições não licenciadas são “muito mais altos do que a média praticada no mercado e aumentam com a angariação de mais depositantes”, alertou.
O Banco de Moçambique assinalou ainda que os promotores recorrem aos depositantes para a angariação de mais clientes, prometendo a estes intermediários comissões chorudas: a entrada de novas pessoas no esquema faz parecer que aumentam os rendimentos para os depositantes mais antigos, mas depois o modelo torna-se insustentável.
Uma vítima disse que se sentiu atraída por esse tipo de produto financeiro pela expectativa de ganho elevado fácil, muito acima dos juros pagos pelos depósitos a prazo nas instituições financeiras licenciadas e sem burocracia.
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