E amanhã? O que farão os alfaiates?

E amanhã? O que farão os alfaiates?

Houve greve de chapas em Maputo, houve gás lacrimogéneo, houve pessoas peregrinando com enormes cajados de língua de fora nas estradas e a solução do nosso governo foi colocar um remendo de subsídio nesse velho tecido dos transportes.

A nossa vida é feita de subsídios. Há uns anitos, quando as padarias decidiram pôr mais fermento em pó, Royal, no preço do pão, saímos todos para sermos padeiros nas ruas de Maputo: pusemos tabuleiros de pneus a cozer nas estradas, paramos a cidade toda e outros, como autênticos chapeiros, desviaram a rota das manifestações e foram invadir lojas e encher as costas com sacos de arroz. E o governo saiu, sempre na sua elegância de alfaiate, mediu a manifestação e correu para coser um pequeno remendo de subsídio.
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Quando o enorme prédio de lixo de Xiquelene engoliu diversas famílias que depois, uma a uma, foram sendo exumadas por tractores, juntadas em caixões, o governo pegou na máquina e fez um pequeno remendo de subsídio para o apoio às famílias…
Os militares em Cabo Delgado também foram injectados coragem com um pequeno remendo de subsídio. É verdade que há tantos que até hoje tombam nas matas sem ter visto esse subsídio. Eu dizia que houve greve de chapas em Maputo e um paninho de subsídio foi recortado e cosido no problema. E assim avança o nosso governo que vai remendando velhos problemas com paninhos de subsídios.
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E amanhã serão os esfomeados dos subúrbios saindo à rua para protestar contra a fome com panelas vazias e colheres cheias de nódoas de fome, amanhã serão os desempregados com panfletos nas ruas, amanhã serão os licenciados e os doutores que fazem exemplares carreiras em entrevistas de emprego a saírem à rua e a amanhã será o povo.
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E o nosso bom governo vai reunir, pegar numa fita métrica, medir os panos desses problemas e no fim pegar numa tesoura e ajeitar, como sempre, remendos de subsídios e a vida continua. Honra, meus amigos, a esse bom governo que passa mais tempo cosendo remendos de subsídios. E amanhã? O que farão os alfaiates?
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