Dívida vai aumentar austeridade na África Subsaariana

Dívida vai aumentar austeridade na África Subsaariana

O director do departamento da justiça da dívida na rede de Organizações Não-Governamentais (ONG) Eurodad considerou esta quinta-feira que a austeridade orçamental vai aumentar nos próximos anos para os países em desenvolvimento, particularmente na África subsaariana.

“A combinação de aumento da dívida e apoio insuficiente das instituições multilaterais vai resultar num aumento da austeridade nos próximos anos, já que as receitas não vão subir, ou vão até descer, e por isso a única opção será cortar na despesa pública”, disse Daniel Munevar durante a sua intervenção na conferência online sobre “A Pandemia da Dívida: Que Impactos para Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique?”.

Na conferência, organizada pela Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP) e a Plataforma Portuguesa das ONG para o Desenvolvimento, Daniel Munevar vincou que “a grande questão é saber como será possível superar uma crise quando a resposta política será reduzir a despesa, o que implica ter menos capacidade para investir na recuperação e cumprir os objectivos da Agenda 2030, Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e Acordo de Paris sobre o clima”.

Durante a sua intervenção, o activista que defende uma redução dos pagamentos da dívida dos países em desenvolvimento alertou também para a possível subida dos conflitos e da instabilidade social devido à redução da actividade económica, que implica mais desemprego.

“Como os países não têm capacidade para implementar medidas de estímulo orçamental e de apoio às empresas, a atividade económica ressente-se e isso vai levar a um aumento do desemprego, tornando-se um local propício para instabilidade e conflitos sociais decorrentes do aumento do desemprego”, avisou.

A pandemia de covid-19, apontou, levou a um aumento substancial da dívida pública, não só nos países em desenvolvimento, mas a nível global, apontou Daniel Munevar, salientando que a grande diferença é que os países menos avançados não têm capacidade orçamental para imprimir estímulos à economia e proteger as populações com investimentos na área da saúde.

“O custo do serviço da dívida passou de 6,6% das receitas dos governos, em 2011, para 17,4% em 2020, e representa mais de 20% das receitas em 32 países, sendo que em Moçambique, por exemplo, custa 45%”, disse o analista, acrescentando que “o número de países que gasta mais com o serviço da dívida do que com a saúde passou de 31 para 62 entre 2011 e 2020”.

A pandemia de covid-19, concluiu, alargou-se para uma pandemia da dívida, que ameaça aniquilar uma década de crescimento económico nos países em desenvolvimento, já que nos últimos dez anos o rácio da dívida sobre o PIB passou de 36,2% para 64,7% no ano passado.

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