Descoberto em grupo de Whatsapp esquema eleitoral para favorecer partido e prejudicar oposição

Descoberto em grupo de Whatsapp esquema eleitoral para favorecer partido e prejudicar oposição

As mensagens trocadas no grupo de WhatsApp “Supervisores da Beira” e em Ribáuè e Matola mostram como manipular o equipamento de recenseamento, e estão a ser usadas para impedir o recenseamento eleitoral em zonas com um número significativo de eleitores da oposição.

As mensagens de WhatsApp entre os supervisores e o director distrital do STAE na Beira permitem-nos concluir que grande parte das avarias são manipuladas porque o padrão das avarias segue a seguinte orientação:

Por exemplo, a supervisora Linete pede aos seus colegas para uniformizarem as suas técnicas de manuseamento das máquinas. Pede-lhes que sigam a técnica que ela está a utilizar, informando os eleitores sem documentos de que “a máquina não reconhece testemunhas e boletins de voto, é o sistema da máquina” e não ela. Então, o eleitor não tem outra alternativa senão desistir, consciente de que “o problema é a máquina” e não o supervisor.

Outro fiscal explica a outra técnica que utiliza: “no final da inscrição de cada cidadão, o computador pede primeiro para gravar. Uma vez terminado o registo, o passo seguinte é imprimir, basta fazer duplo clique na imagem que aparece no canto”. Eles não explicam o que acontece depois do duplo clique, mas é certamente uma técnica que beneficia a Frelimo, porque no comentário seguinte, o Supervisor José reconhece que “a vossa experiência é boa, e graças a esse duplo clique estamos a chegar aos cento e tal (eleitores)”.

A terceira técnica é explicada pelo supervisor JB quando afirma que, depois de os fiscais da Frelimo, com quem coordena, o terem avisado que o maior número de eleitores na fila “não era nosso”, “desliguei a máquina e só voltei a operá-la quando a situação nos beneficiou”. Reconhece que tomou a decisão de forma unilateral, o que lhe poderia ter custado caro. Mas “felizmente agora temos esse apoio” do director.

Zília Nagimo tem uma técnica diferente da dos outros supervisores: “No nosso posto, quando é nosso (referindo-se a um eleitor da Frelimo), assistimos em silêncio: a supervisora e a telefonista, ou as duas telefonistas, que sou eu e a dactilógrafa, para não dar bandeira” como oposição.

O director distrital do STAE na Beira felicita os seus colegas, a quem chama “família”, porque “o inimigo [a oposição] já está aflito, mas é preciso continuar a atacar”. E ordena aos supervisores que “só aceitem testemunhas e boletins de voto” se isso for para beneficiar a Frelimo. Em resposta, JB volta a confirmar: “Portanto, se for para favorecer o nosso povo, eu retomarei a prática”. O Supervisor JB agradeceu a orientação do seu director e disse: “Valeu a pena o aval (do director), porque, de facto, eu já tinha deixado de aceitar testemunhas [para identificar as pessoas que se inscrevem, como permite a lei] depois de constatar que os únicos que traziam pessoas sem documentos eram os fiscais do MDM e da Renamo e os secretários de bairro, de unidade e de quarteirão” que, na Beira, são do MDM e não da Frelimo. Segundo o Supervisor JB, os secretários de bairros, unidades e quarteirões “já estavam quase acampados à porta do posto de registo”.

Anunciou que, para além de ter abolido, por sua iniciativa, as testemunhas e os boletins de voto, também já tinha tomado outra decisão para impedir o registo de eleitores da oposição: rejeitar os cartões de eleitor de indivíduos não beirões. Só os aceitava se fossem para beneficiar a Frelimo.

JB relata orgulhosamente ao grupo que “O inimigo já percebeu que no meu posto é impossível, tanto que as enchentes diminuíram e tenho notado o fluxo de residentes do círculo eleitoral”.

Noutra comunicação, JB informa o director que as enchentes estão a diminuir porque eles [eleitores da oposição] já perceberam que não se vão registar por estas duas vias [testemunhas e notas]” e lança uma sugestão ao seu director: “mas podemos relaxar, pois temos informações seguras de que as enchentes vão recomeçar, mas desta vez vão trazer um recibo de pedido de BI. Por isso, estão a pedir bilhetes de identidade em massa. O inimigo é astuto”.

O bloqueio dos eleitores da oposição acabou por afectar também os eleitores da Frelimo, confundidos com os dos partidos da oposição. Isto preocupou o supervisor Mateus Capondo, o que o levou a alertar os outros para reforçarem a colaboração com os fiscais dos partidos da Frelimo.

“Tem supervisores que estão a rodar camaradas nos postos de recenseamento por falta de conhecimento de onde eles vêm e também acho que por falta de comunicação”, revela Mateus Capondo que relata ter recebido “cinco camaradas que saíram de outro posto”.

“Este tipo de incidente pode acontecer” porque “neste tipo de limpeza [de eleitores da oposição], um vai sempre escapar, especialmente quando o supervisor não conhece os nossos da zona onde está sediado”. E sugere que “é preciso comunicar muito com o supervisor e prestar muita atenção”. Alerta para o facto de este exercício “não ser fácil, mas é possível”.

Gisela Patrício desenvolveu a técnica de “dormir no computador”. Mas, antes de explicar em que consiste a técnica, diz que “nas primeiras horas”, o seu posto de recenseamento “estava “cheio” ou num grupo a nosso favor, mas por volta das 14 horas o cenário mudou” e a fila estava cheia de eleitores da oposição. Para os bloquear, “pedi ao inspector que saísse e verificasse a fila para ter a certeza se eram nossos ou não”. O inspector acedeu. Quando regressou, o inspector informou o supervisor de que “a maior parte deles não eram nossos”. Então “mandei a dactilógrafa dormir no computador. Quer dizer, demorar mais tempo a registar um eleitor, mesmo sabendo que havia um e outro de nós na fila”. No final, diz ter pedido ao inspector para ir identificar “os nossos camaradas para virem amanhã, à primeira hora”.

Termina a mensagem dizendo que a técnica surtiu efeito porque “no meu posto, muitas pessoas regressam (a casa) sem se registarem”. E jura que se for para ajudar a Frelimo “fá-lo-ei tantas vezes quantas as necessárias”.

Para além desta técnica, noutros postos, em alguns distritos, os mobiles foram alegadamente avariados quando, na verdade, estavam totalmente operacionais. Foram utilizados na calada da noite para registar os eleitores. O caso mais evidente ocorreu no distrito de Ribáuè, onde duas máquinas dos postos da Câmara Municipal foram retiradas para registar residentes de fora dos limites do município. Os supervisores alegaram que as duas máquinas estavam avariadas e que a brigada tinha deixado de registar durante uma semana devido a alegadas avarias nas máquinas. Cenário idêntico ocorreu na cidade da Matola, onde as máquinas foram dadas como avariadas quando, na verdade, estavam a ser utilizadas durante a noite, até cerca das 23 horas, e em vários dias. ()

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