Um grupo de insurgentes islâmicos conseguiu, na noite desta terça-feira (07), entrar e infiltrar-se na vila-sede de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado, trajado de uniforme das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), tendo realizado uma palestra numa mesquita, localizada no bairro Nabubussi, nos arredores da vila.
De acordo com vídeos divulgados nas redes sociais, os terroristas dirigiram-se a fiéis de uma mesquita, explicando os motivos da sua luta, alegadamente relacionada com a necessidade de se implementar um Governo islâmico, em Cabo Delgado. “Neste momento, existem dois governos, um de orientação islâmica e outro liderado por descrentes”, dizia um dos terroristas, fazendo referência ao Governo oficial.
Na ocasião, os terroristas apelaram aos presentes para que não sigam as ordens do Governo e do Estado moçambicano, sob pena de serem atacados nos próximos tempos. Exortaram igualmente a população a não cooperar com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) nacionais e ruandesas. “Se estamos a ouvir que existe o paraíso de Allah, então, saibam que não se entra de qualquer maneira. Isso não é uma vontade individual, é a religião de Deus”, frisaram.
Dirigindo-se especialmente aos jovens, o grupo pediu que a estes para que não tenham medo e aceitassem defender a religião de forma absoluta. Em alguns momentos, misturaram ameaças contra quem considerassem pecador, com justificativas religiosas para legitimar acções extremistas.
“No nosso mundo não existe a bandeira de Filipe Nyusi nem a de Daniel Chapo, a bandeira que aqui domina é a de Subuwana Wuatala. Os filhos filhos desta comunidade muçulmana não têm medo. Segundo Subuwana Wuatala, citado no ‘livro de Croani’, os filhos do sexo masculino devem permanecer sem temor. Pedimos que nos apoiem nas orações (Dhwa).”
Os insurgentes ainda apelaram à prática religiosa diária, leitura do Alcorão e oração (Dhwa) como forma de fortalecer a lealdade à sua mensagem. O discurso procurou combinar medo e fé, criando um ambiente de intimidação e adesão coerciva.
“Aqui dentro da mesquita não há cafirim (pecador). Onde estão? Devem sair; nós queremos ensinar. Vocês devem abrir os olhos. Se tiverem os olhos amarrados, abram-nos. Nós estamos a defender a religião de Subuwana Wuatala. Todo pecador, onde estiver, nós vamos matar. Vocês devem abrir os olhos.”
“O Profeta Mohammed mostrou fé para todo o povo, respeito e o caminho […]. Respeitem-se, muçulmanos. Se não estão a respeitar-se entre muçulmanos, então comecem a partir de já e saibam que […], insha Allah.”
Após esse encontro na mesquita, o grupo retirou-se sem haver qualquer confrontação com as tropas do Ruanda e de Moçambique. De acordo com os relatos, enquanto os insurgentes realizavam a palestra, os militares ruandeses que operam na zona encontravam-se em outros bairros.
(Foto DR)


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