Uma delegação de sete eurodeputados defendeu ontem em Maputo que a União Europeia (UE) deve entregar rapidamente o equipamento militar não letal destinado a soldados moçambicanos treinados pela UE, visando o combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado, norte do país.
“Temos de acelerar a entrega dos equipamentos que foram prometidos”, afirmou, Nathalie Loiseau, presidente da subcomissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, falando em conferência de imprensa citada pela Lusa.
Loiseau adiantou que os eurodeputados vão levar para Bruxelas a preocupação com a necessidade de disponibilizar o quanto antes os recursos materiais necessários para a formação de militares moçambicanos.
Os meios incluem veículos, munições para treinos, fardamento militar e botas, acrescentou a chefe da delegação, material que começou a ser entregue a 09 de Setembro.
Aquela eurodeputada assinalou que a formação que está a ser ministrada por formadores militares da UE está a produzir os resultados desejados, o que se traduz na aquisição de competências e capacidades de coordenação no combate aos grupos armados em Cabo Delgado.
“Falei com o Chefe de Estado-Maior General [das Forças Armadas de Defesa de Moçambique] e mostrou-se satisfeito com a formação”, enfatizou à Lusa.
Nathalie Loiseau destacou o registo de progressos no combate à insurgência no norte de Moçambique, mas admitiu que ainda persistem desafios para a derrota dos rebeldes.
A eurodeputada francesa frisou a importância da solidariedade europeia no combate aos insurgentes, observando que os grupos armados protagonizam atrocidades contra populações indefesas.
A delegação que terminou hoje a visita de dois dias a Moçambique foi composta por sete eurodeputados da Subcomissão de Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, passando por um campo de treino ministrado por formadores militares da UE em Chimoio, centro de Moçambique.
Os eurodeputados reuniram-se com altos quadros do Estado moçambicano e com representantes da sociedade civil.
Integraram ainda a delegação de eurodeputados da subcomissão de Segurança e Defesa os eurodeputados Arnaud Danjean (França), Attila Ara-Kovács (Hungria), Isabel Santos (Portugal), Jaak Madison (Estónia), Lars Patrick Berg (Alemanha) e Mick Wallace (Irlanda).
Esta visita teve lugar pouco depois da deslocação a Moçambique do Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, que, a 09 de Setembro, entregou em Maputo a primeira tranche de equipamento militar não letal para tropas moçambicanas treinadas pela UE para combater em Cabo Delgado.
“Esta é a primeira entrega, mais se seguirão, proximamente”, como parte de um pacote de 89 milhões de euros (85 mais uma parcela inicial de quatro) para equipamento, referiu na ocasião.
Veículos de carga todo-o-terreno e equipamentos individuais como fardamento, capacetes, óculos ou cantis, fizeram parte da entrega realizada na base militar da Katembe, margem sul de Maputo, um dos locais da missão de treino militar da UE.
As próximas remessas de apoio a Moçambique também terão material para combate nos rios e no mar, acrescentou, frisando que o apoio europeu obedece a uma visão integrada, que inclui o desenvolvimento económico e social para restaurar a paz em Cabo Delgado.
Do ponto de vista militar, “Moçambique é o primeiro país a receber formação em combate e apoio material” em simultâneo, ao abrigo de “um novo instrumento” que é o Mecanismo Europeu de Apoio à Paz – com o objectivo de tornar as forças armadas auto-sustentáveis, ou seja, que deixem de precisar de apoio externo, notou.
A missão de dois anos apoia o treino de 1.100 militares, ou seja, 11 unidades de reacção rápida das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (comandos preparados no Chimoio e fuzileiros na Katembe, além de controladores aeronáuticos) e é levada a cabo por 119 membros de 12 países da UE.
Portugal assume o comando da missão e é o país com o maior contingente, actualmente de 68 militares dos três ramos das forças armadas e GNR.
Os custos comuns a acção de formação, cobertos pelo Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, estão avaliados em 15 milhões de euros para o período de dois anos.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial, e na província vizinha de Nampula.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
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