A União Europeia (UE) pretende aplicar 65 milhões de euros este ano para projectos de desenvolvimento no norte de Moçambique, afectado por uma insurgência armada, disse hoje em entrevista à Lusa o embaixador da UE em Maputo, António Gaspar.
“Só para este ano temos no ‘pipeline’ [em vias de aplicação] 65 milhões de euros para acções de desenvolvimento para o norte, para assuntos ligados ao apoio à resiliência, infraestruturas, água e outros programas que já estão a ser formulados”, referiu o embaixador à Lusa.
Os projectos em concreto “ainda estão a ser preparados”, em “diálogo permanente com o Governo” e a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), gabinete criado pelo executivo, sublinhou António Gaspar.
O norte abrange a província flagelada de Cabo Delgado e as vizinhas de Niassa e Nampula, sendo que os 65 ME representam 45% do total de apoio para este ano, da UE a Moçambique.
Este envelope financeiro de ajuda fresca faz parte de um pacote mais vasto de apoio ao desenvolvimento a Moçambique para o período 2021-2027.
Estão previstos 428 milhões de euros para os primeiros quatro anos e há três pilares: paz e estabilidade, apoio à emancipação dos jovens e estratégia ‘crescendo verde’, de apoio à transição energética e preservação do ambiente, referiu António Gaspar à Lusa.
No caso da região sob ameaça terrorista, a ajuda financeira ao desenvolvimento será aplicada com base num estudo intitulado Estratégia de Resiliência e Desenvolvimento Integrado do Norte (ERDIN) elaborado pela UE, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Mundial e Nações Unidas com as autoridades moçambicanas.
O levantamento visa relançar “em cinco anos” a “base para o desenvolvimento económico e social” da região, lê-se no documento citado pela Lusa.
“A sua missão é promover a construção da paz, a reconstrução do contrato social entre o Estado e o cidadão e a recuperação económica, alicerçadas na participação das comunidades, com inclusão de mulheres, jovens e grupos vulneráveis, de forma sustentável e resiliente, com respeito pelos direitos humanos”, acrescenta.
No final de 2021, a ADIN apresentou a ERDIN e referiu que seria remetida para aprovação pelo Conselho de Ministros.
Sem desenvolvimentos desde então, a situação tem suscitado dúvidas, com o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), ONG moçambicana, a questionar em Abril se o Governo “arquivou a estratégia”.
António Gaspar disse à Lusa que a questão não se coloca: “Isso não vai condicionar o nosso apoio, a UE não está à espera de ver” o documento “aprovado ou não”.
“A ERDIN orienta” o trabalho da UE e parceiros “do ponto de vista técnico” e, ao mesmo tempo, o documento foi colocado “ao serviço do Governo” que é soberano na definição das políticas, referiu António Gaspar.
Além das verbas para apoio ao desenvolvimento, a UE tem outro dossiê financeiro em que está a apoiar o país com 89 milhões de euros em equipamento militar (não bélico) e a suportar as despesas de uma missão de treino militar durante dois anos (2021-2023) para fazer face à insurgência armada.
“Se temos missão de treino” e apoio em equipamento (fardamentos, viaturas, hospitais de campanha, entre outros) “foi porque o Presidente moçambicano pediu” e “se houver mais pedidos”, serão ouvidos, referiu.
A este propósito fez menção a um apoio de cerca de “dois milhões de euros” atribuídos para “atividades civis e militares da SAMIM (missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Cabo Delgado) e estão em estudo outras opções para apoiar a SAMIM e o Ruanda” no terreno.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.