O especialista em Direito e Segurança Rodrigues Lapucheque considerou que os receios de represálias podem estar a limitar uma ação mais decisiva da Tanzânia no combate aos grupos armados que aterrorizam a província de Cabo Delgado.
“A Tanzânia começou, em momentos posteriores, a ter certas reservas, certos receios de que quando entrasse em peso [no combate aos grupos armados que actuam em Cabo Delgado], esses movimentos radicais da Al-Shebab poderiam criar represálias, que poderiam ser imprevisíveis”, assinalou Lapucheque, docente universitário e coronel de Infantaria Motorizada nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), em entrevista à agência Lusa.
A circunstância de combatentes internacionais que se filiaram aos insurgentes em Cabo Delgado atravessarem “regularmente” a Tanzânia e actuarem nos distritos moçambicanos próximos daquele país pode gerar receios nas lideranças em Dar-es-Salam, explicou.
“É por isso que se notou que a Tanzânia era aquela que tinha muitas reservas de intervir militarmente em Moçambique, em Cabo Delgado”, no âmbito da missão militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Mas a inação das autoridades tanzanianas não é uma opção segura, porque uma vez instalado o caos no norte de Moçambique, os grupos armados vão expandir a sua acção também para a Tanzânia, enfatizou Rodrigues Lapucheque.
Essa leitura e a intervenção militar da SADC e do Ruanda em Cabo Delgado, prosseguiu, convenceram Dar-es-Salam a enviar um contingente militar em apoio às forças governamentais moçambicanas, embora sem o “peso” que Maputo poderia esperar, dados os laços históricos e políticos entre os dois países.
“Não é aquela intervenção que nós esperaríamos, esperávamos que seria na vanguarda”, frisou aquele académico e oficial das FADM.
Rodrigues Lapucheque alertou que a aparente inércia das autoridades tanzanianas em travar o fluxo de combatentes para Cabo Delgado também pode ser resultado de uma incapacidade operacional e logística de controlar a extensa linha de fronteira entre os dois países.
Lapucheque assinalou que a expetativa em relação a um papel mais activo da Tanzânia no combate ao “jihadismo radical islâmico” no norte de Moçambique é alimentada pelo facto de aquele país ter apoiado militarmente a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) na luta contra o colonialismo português, acolhendo a sede e campos de treino da organização.
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