(Foto do artigo: DR; Descrição/Legenda: Michelo Shakantu, à esquerda, e o Presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, à direita, na Royal Villa, em Eswatini, durante a deslocação de Lungu ao país em 2017).
O antigo presidente da Zâmbia Edgar Lungu está alegadamente envolvido em escândalos de corrupção no E-swatini, segundo a investigação “Swazi Secrets” do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês), organização com sede em Washington.
A”Swazi Secrets” é uma investigação sobre fluxos de dinheiro suspeitos no E-swatini que contém 890.000 registos internos da Unidade de Informação Financeira do E-swatini (EFIU, na sigla em inglês), que foram analisados por 38 jornalistas de 11 países.
Segundo a informação do ICIJ, divulgada no dia 19 de Junho , em 2019, investigadores zambianos redigiram um pedido de ajuda aos seus homólogos do E-swatini para investigarem Lungu, mas só em 06 de Dezembro de 2021 foi enviado pelos investigadores de crimes financeiros da Zâmbia um memorando confidencial aos seus homólogos no E-swatini, país anteriormente conhecido como Suazilândia.
Nesse memorando, enviado dois anos depois, o Centro de Informações Financeiras da Zâmbia (ZFIC) apresentava sérias alegações de que o antigo Presidente do país Edgar Lungu tinha “acumulado riqueza através de actividades corruptas”.
O documento também levantava preocupações em relação ao magnata da construção zambiano-suazi Michelo Shakantu, casado com Pholile Dlamini-Shakantu, ministra dos Negócios Estrangeiros e antiga ministra da Justiça do E-swatini.
“Uma das principais alegações era que uma das empresas de Shakantu, a Inyatsi Road Construction, tinha obtido uma série de contratos de construção de estradas e, por sua vez, oferecido subornos sob a forma de terrenos e presentes monetários a indivíduos de alto nível”, segundo o comunicado do ICIJ.
Lungu – que liderou a Zâmbia de Janeiro de 2015 a agosto de 2021, altura em que foi destituído por acusações de que o seu Governo era corrupto e cada vez mais autoritário – foi alegadamente um dos beneficiários destes presentes, tendo, segundo o ZFIC, Shakantu comprado, em 2018, um terreno para Lungu numa luxuosa propriedade de golfe no E-swatini, informou o ICIJ.
O terreno situa-se no extenso Nkonyeni Residential Golf Estate, no coração rural do E-swatini.
Os meios de comunicação social locais noticiaram, em 2018, que Lungu planeava construir ali uma mansão de dois andares no valor de 4 milhões de dólares, e questionaram quem estaria a financiar a construção, sendo que os projectos da mansão circularam amplamente nas redes sociais.
Na altura, a então ministra da informação da Zâmbia, Dora Siliya, disse aos meios de comunicação zambianos que o rei do E-swatini, Mswati III, tinha dado o terreno para a residência planeada como presente a Lungu, acrescentando que isso era “normal”.
A história sofreu uma reviravolta quando os meios de comunicação social suazis informaram que a propriedade não era de Lungu, mas sim de uma empresa pertencente a Shakantu e que este teria alegadamente detido acções para Lungu na empresa de telecomunicações Swazi Mobile.
“Mas embora a notícia tenha sido divulgada em Maio de 2018, as autoridades zambianas demoraram a agir. O memorando confidencial do ZFIC, datado de agosto de 2019, associava a propriedade de Nkonyeni em E-swatini aos alegados subornos para contratos de construção na Zâmbia, e citava relatos dos meios de comunicação social de que o terreno presenteado era um dos 90 lotes pertencentes à lnyatsi Properties Ltd, outra empresa de Shakantu”.
Segundo o ICIJ, o momento do envio do memorando, datado de agosto de 2019, fez com que a investigação não prosseguisse até 06 de Dezembro 2021, ano em que Lungu perdeu as eleições presidenciais para o candidato da oposição Hakainde Hichilema.
Quando Hichilema ganhou as eleições, a Zâmbia, um país com 20 milhões de habitantes, “era a nação mais endividada de África”, refere o consórcio.
O director executivo da Transparência Internacional da Zâmbia, Maurice Nyambe, citado pelo ICIJ, suspeita que “a culpa do atraso foi da interferência política”.
“A direcção do ZFIC é nomeada pelo Presidente, pelo que o potencial de influência da presidência sobre a direcção é extremamente elevado, e é inconcebível e até ingénuo pensar que tal coisa nunca aconteceu antes”, declarou Nyambe.
Depois da publicação, em 15 de Abril, do “Swazi Secrets”, um ministro do Governo zambiano desafiou Lungu a explicar o financiamento de quaisquer investimentos que possa ter no E-swatini, incluindo, presumivelmente, a propriedade de Nkonyeni.
Em resposta, Lungu emitiu uma declaração no Facebook negando possuir propriedades nessa nação africana, que faz fronteira com Moçambique e é a última monarquia absolutista do mundo.
De acordo com documentos divulgados, no início de 2022, a EFIU não conseguiu associar qualquer propriedade ou conta no E-swuatini directamente a Lungu.
A propriedade de Nkonyeni também não estava registada em nome de Shakantu ou da sua empresa, Inyatsi.
No entanto, a EFIU descobriu que a propriedade de Nkonyeni era do Link Trust, que é “devidamente representado por Michelo Shakantu, o que de certa forma liga Lungu a Shakantu, embora a propriedade ainda não esteja desenvolvida”, concluiu. (Texto: Rádio Moçambique; Link do ICIJ: MZNews)
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