A subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu, na quinta-feira, vai dificultar ainda mais o financiamento dos países africanos e de outros mercados emergentes, afirmam vários analistas, sugerindo fontes alternativas de financiamento.
Miranda Abraham salienta que “apesar de a qualidade da dívida soberana africana não ter caído, o apetite pelo risco entre os tradicionais investidores em títulos de dívida diminuiu claramente e isto fez subir o preço para níveis proibitivos”.
Em causa está, além da subida das taxas de juro directoras por parte do Banco Central Europeu, na quinta-feira, uma subida generalizada das taxas de referência por parte dos bancos centrais a nível global para contrariar a inflacção, que aumentou significativamente no seguimento do aumento dos preços das energia, alimentos e matérias primas desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Os governos africanos têm oferecido preços justos em dívida de longo prazo, com lucros atractivos para os investidores, mas o ambiente mudou, e agora os investidores estão a preferir comprar dívida com melhor rating, e a subida da inflacção significa que para os investidores há agora mais oportunidades percepcionadas como tendo menos riscos e oferecendo taxas de juro maiores”, acrescentou Miranda Abraham.
Num outro comentário, a consultora Oxford Economics Africa salientou uma “subida extraordinária” dos `spreads` da dívida soberana nos últimos meses, “o que significa que muitos países africanos não vão conseguir ganhar acesso a custo razoável ao mercado da dívida, necessário para financiar o seu desenvolvimento económico”.
As analistas escrevem que esta dificuldade de aceder aos mercados financeiros “pode implicar consolidação orçamental numa altura em que as dificuldades económicas já estão a fomentar o descontentamento das populações”.
Os `spreads` da dívida soberana mostram a diferença entre os juros dos títulos de dívida emitidos no mercado e os juros oferecidos pelos governos, ou seja, é a diferença entre a proposta a que o Estado quer vender a dívida e o juro que o comprador quer obter na transacção.
Esta diferença “dá uma indicação sobre as mudanças na aversão global ao risco, bem como sobre o risco específico de cada país”, razão pela qual os países africanos, percepcionados como mais arriscados, pagam mais aos investidores nas emissões de dívida.
“A necessidade de acelerar os esforços de consolidação orçamental pode implicar que os governos tenham de conter o investimento público, assim diminuindo o crescimento económico”, dizem os analistas, concluindo que “um resultado menos favorável pode ser os governos ignorarem o aumento dos custos de endividamento e continuarem numa trajectória de insustentabilidade orçamental, o que levaria a uma consolidação muito mais profunda e dolorosa daqui a alguns anos”, concluem. (Lusa, via RTP).
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