Famílias moçambicanas queixam-se do impacto do aumento dos preços dos combustíveis e produtos básicos. Empresários pedem à banca que reveja rapidamente a legislação “banca sem juros” para estimular a economia.
“Isto está a aumentar cada vez mais a pobreza dos moçambicanos. É uma forma de mandar embora os cidadãos de Moçambique”, queixa-se um morador de Maputo ao microfone da DW África. É apenas um de muitos moçambicanos que dizem sentir cada vez mais aperto nas contas diárias das suas famílias devido aos últimos aumentos no preço dos combustíveis que arrastam consigo outros produtos básicos.
A crise, diz outra residente na capital, “há-de ser difícil”. “Por causa da forma como eu trabalho, porque vivo fazendo biscates e guardo dinheiro que estiver disponível”, explica.
“Será mais complicado para crianças, família lá em casa. O valor que tinha para comprar pão tenho que gastar em combustível, porque obrigatoriamente tenho que usar transporte. Não tenho como sair sem transporte”, lamenta outro residente em Maputo.
Os efeitos da crise resultante do aumento dos preços dos combustíveis, dos alimentos e das condições financeiras restritivas também já se fazem sentir pelos empresários. Na última quinta-feira, o presidente da CTA, Confederação das Associações Económicas, Agostinho Vuma, afirmou que estes três choques tornam os seus negócios insustentáveis.
Taxas de juro insustentáveis
O responsável pediu à banca para acelerar a legislação com vista a estimular a economia e “a abrir portas para o acesso aos financiamentos concessionais para as empresas e dinamizar a prática da banca sem juros no mercado”.
Se, por um lado, o custo de vida está a subir, diz Vuma, por outro, para tentar travar a inflação, o Banco de Moçambique está a pressionar o empresariado ao tentar travar a inflação: “Controlar a inflação é aumentar a taxa de juros. Aumentar a taxa de juros é dizer que hoje a taxa de juro em Moçambique está a cerca de 20%. 20%? Não existe nenhuma atividade económica capaz de suportar o custo de financiamento a essa margem”, frisa.
Novos aumentos do pão e transportes?
Há cerca de dois meses, antes mesmo do agravamento da tarifa dos combustíveis desta terça-feira, o preço do pão já tinha aumentado. E o setor alerta para outra subida devido à escassez do trigo, segundo o presidente da Associação dos Panificadores de Moçambique (AMOPÃO), Vítor Miguel.
“Obviamente cada um foi vendo qual é a sua situação no momento e entendeu que deve fazer o reajuste para poder aguentar-se, sob pena de fechar e não termos pão no mercado”, avisa.
A subida do preço dos transportes, que é outro bico d’obra para os moçambicanos, ainda vai depender de um encontro entre o setor e o Governo, segundo o vice-presidente da Federação dos Transportes Rodoviários, Sancho Simão. “O normal seria que, quando o combustível subisse, nós fôssemos ao encontro da subida dos custos de operação para termos algum lucro. Mas neste momento não existe”, lamenta.
O sector de produção agrícola diz que pode produzir o trigo e outros alimentos localmente para conter a crise de alimentar, mas o presidente da Federação das Associações Nacionais Agrárias, Hermane Mussanhane, diz que essa vontade não depende dos produtores.
“Alternativas temos, mas na agricultura as soluções não são imediatas”, lembra. “A questão do crédito não está para nós. 2% de todo o crédito aprovado a nível do país é para a agricultura. Como é que vamos dizer que a agricultura é uma prioridade?”, questiona Mussanhane.
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