A economista do Centro de Integridade Pública (CIP) Estrela Charles considerou esta segunda-feira que “a inflação anual alimentar” ultrapassou 10% no país e devia ter sido referência nos novos salários mínimos e não a inflação média anual, que se situou em cerca de 7%.
“A inflação dos produtos alimentares está entre 10% e 11% e o salário mínimo aumentou entre 3% e 4%, o que significa que está muito aquém daquilo que devia ser, pelo menos para cobrir a subida dos preços dos alimentos”, disse Estrela Charles, economista e pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP), em declarações à Lusa.
Para a pesquisadora, o critério que norteou a aprovação dos novos vencimentos no início deste ano é a inflação anual acumulada, que se situou entre 6% e 6,7% e que incluiu todos os produtos da cesta básica do consumidor, mas o nível de subida dos preços dos alimentos está acima dos 10%.
Estrela Charles sublinhou que os aumentos dos vencimentos mais baixos decretados no início deste mês não repõem o poder de compra dos trabalhadores.
Apontou o caso de uma subida de 371 meticais para um dos setores com ordenados mais baixos, observando que não “acompanha”, por exemplo, os recentes aumentos de mais de 500 meticais no arroz e no óleo alimentar.
À Lusa, a pesquisadora frisou igualmente, que a situação dos trabalhadores é mais precária ainda dado que ficaram sem aumentos nos salários nos últimos dois anos, devido à queda na economia, provocada pela pandemia de covid-19, impacto das mudanças climáticas e da violência armada na província de Cabo Delgado.
O Governo e as empresas, continuou, têm condições para incrementar os ordenados mínimos, porque a economia está a sair da recessão dos últimos dois anos, o que, no seu entender, se vê pelo aumento da oferta de emprego.
Estrela Charles acusou o executivo e os empregadores de “falta de interesse” em pagar melhores salários mínimos e reforçar o poder de compra dos trabalhadores
“Os empregadores terão sempre tendência para fixar salários cada vez mais baixos para poder ter lucros mais elevados”, disse.
Por sua vez, prosseguiu, o Governo tem sido relutante em aprovar ordenados mínimos substanciais, porque vários membros do executivo são também patrões.
“Boa parte do setor empresarial no país é composta por alguns membros do Governo. Há um conflito de interesses e os trabalhadores ficam nesse processo negocial isolados”, afirmou.
“O facto de os sindicatos terem exigido um salário mínimo de 30 mil meticais e o Governo ter fixado em pouco mais de cinco mil meticais o salário mais baixo que se paga no país mostra que os representantes dos trabalhadores foram obrigados a este consenso, porque a diferença é de cerca de 25 mil meticais”, concluiu Estrela Charles.