O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, alertou ontem que para consolidar a pacificação da província de Cabo Delgado, no norte do país, é necessário investir no desenvolvimento, sob pena de um regresso do terrorismo.
“Eu creio que a situação em Cabo Delgado está bem encaminhada”, disse, em entrevista à Lusa, à margem da 36.ª Cimeira da União Africana na capital etíope, salientando que falou sobre o tema com os seus homólogos de Moçambique, Botsuana, Maláui e Ruanda.
“O que é um consenso é que a solução para a situação em Cabo Delgado é uma solução tríplice: uma solução que envolve a parte da segurança, que está bem encaminhada, mas envolve também o apoio humanitário para as populações deslocadas e o apoio ao seu regresso, e uma componente também de promoção do desenvolvimento”, explicou o ministro.
As várias crises de segurança em África (Sahel, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Sudão, Mali ou Nigéria) correm o risco de retirar visibilidade à situação de Moçambique.
A instabilidade na província de Cabo Delgado “pode ter menos visibilidade, mas está presente no espírito dos principais representantes dos diversos países africanos aqui”, considerou Gomes Cravinho
“As nossas expectativas é também que as empresas internacionais em breve possam regressar a Cabo Delgado justamente para criar uma dinâmica de desenvolvimento que falta e que é difícil num quadro de insegurança”, afirmou o ministro português, numa referência a um regresso da petrolífera Total à região.
Ontem, em Adis Abeba, o Presidente da República, Filipe Nyusi, considerou o combate ao “terrorismo” na província como um exemplo do sucesso das “soluções africanas para os problemas africanos”.
No “combate contra o terrorismo em Moçambique, na província de Cabo Delgado, pode-se observar este princípio de soluções africanas para problemas africanos”, disse Nyusi.
O chefe de Estado moçambicano falava durante a conferência “Silenciando as armas em África em 2030”, promovida em Adis Abeba, capital da Etiópia, pelo Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido (Chatham House).
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.
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