A empresa sul-africana de combustíveis químicos e sintéticos, Sasol, disse, na semana passada (quinta-feira, 13), que vai abandonar os seus planos de importar Gás Natural através do proposto Gasoduto Renascentista Africano (African Renaissance Pipeline, ARP na sigla inglesa). O ARP ligaria Moçambique e África do Sul através de um gasoduto de 2600 km partindo da Bacia do Rovuma, na província de Cabo Delgado. A primeira fase do projecto do lado moçambicano seria concluída em 2025 e a segunda iniciaria em 2026, do lado sul-africano.
No entanto, para atingir os seus propósitos, a Sasol vai optar por importar o gás moçambicano que será produzido pelo consórcio liderado pela Total Energies. Considera a empresa que desse modo vai explorar melhor as reservas de gás offshore de Moçambique.
Por agora, empresa está a considerar a importação de GNL a partir de uma unidade de regaseificação de armazenamento flutuante permanentemente atracado (FSRU) projectada para o Porto de Matola, em Maputo.
O promotor do projecto, Beluluane Gas Company (BGC), uma joint venture que inclui como parceiros a TotalEnergies, o Grupo Gigajoule de gás natural da África do Sul, e a Matola Gas Company (MGC) de Moçambique, concluiu em meados de 2021 a primeira fase de estudos de engenharia e concepção para o projecto.
A Sasol importa actualmente gás dos seus campos de gás em decadência Pande e Temane, na província de Inhambane, através do gasoduto Rompco de 865 km que faz a ligação à rede de transmissão da MGC. A Sasol espera compensar o declínio do seu volume de gás quando o FSRU da Matola entrar em funcionamento, em meados de 2024.
Em uma entrevista a Bloomberg, na sede da Sasol em Joanesburgo, o CEO da Sasol, Fleetwood Grobler, disse que o investimento direccionado ao ARP apenas “manter-se-ia funcional entre 30 e 40 anos”, apontando o facto de a empresa estar preocupada com os impactos climáticos da exploração de combustíveis fosseis.
“O gás a longo prazo é também um combustível fóssil e nós dissemos que queremos chegar à neutralidade absoluta”, referiu.
“Tomamos uma decisão acertada, porque o gás é finito e quando ele não for mais necessário já não se vai mais investir no gás”, frisou.
A Sasol, o maior produtor mundial de combustível sintético a partir do carvão, é o segundo maior emissor de Gases com Efeito de Estufa (GEE) da África do Sul, depois da empresa pública de electricidade Eskom. Apesar disso, observadores mundiais de fiscalização do carbono dizem que em termos de produção de gases com efeito de estufa de uma única fábrica, a fábrica de combustíveis sintéticos da Sasol é a primeira a nível mundial.
A Climate Transparency, uma organização que acompanha a transição energética no G20, disse, que em 2020 a África do Sul ainda dependia do carvão para satisfazer 74% das suas necessidades energéticas, mais do dobro da média de 31% entre o grupo de nações industrializadas e em desenvolvimento do G20.
A agência do clima recordou que em Setembro de 2021, a Sasol anunciou um plano para reduzir as suas emissões de GEE em 30% até 2030, mas até agora só consegue 10% do gás natural de que vai precisar para substituir o carvão em quantidade suficiente para atingir esse objectivo.
O facto de a Sasol não ter conseguido atingir o ARP proposto deixa-a com duas opções para a obtenção de gás adicional: As importações de GNL e o desenvolvimento das próprias reservas de gás da África do Sul. No entanto, a Sasol também está a tornar-se verde, tendo criado uma nova unidade de negócios, a ecoFT, para desenvolver a sua tecnologia proprietária Fischer-Tropsch gás-líquidos para melhor utilizar os 2,3 milhões de toneladas de hidrogénio cinzento que a empresa produz anualmente.
Fonte: JPT, Bloomberg.
Este texto foi actualizado às 14h39 por MZNews.