A gema do partido Frelimo é tripartida, ou seja, tem três divisões. Basta só olhar para o mapa de Moçambique que a resposta é “geográfica” e salta aos olhos do mais leigo. Cedo ou tarde, as turbulências regionais sempre foram previsíveis. Dizem os jornais.
O partido está próximo do congresso, e uma das maiores preocupações nos meandros políticos tem sido a sucessão do actual Presidente da Frelimo que, via de regra, é também Presidente da República de Moçambique. Essa sucessão parece que tem a ver com interesses regionais, e não necessariamente com as qualificações do candidato – dizem os jornais. Mas essa guerra interna não se restringe à “cobiça” pela poltrona partidária e presidencial, ela estende-se às organizações do próprio partido.
Isso terá ficado evidente no último congresso de eleição do novo presidente da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) – o braço juvenil da Frelimo – realizado na sexta-feira (20 de Maio). No conclave, a sucessão deu-se entre pessoas de ascendência para lá do norte do Rio Save. Anchia Talapa, natural de Nampula, tida como fiel escudeira da actual etnia no poder e que, no ano passado, viu frustradas as manobras para “perpetuar-se” na presidência da OJM, caiu da cadeira e, então, “à força” para dar lugar ao jovem Silva Livone, natural da Zambézia. Mas este jogo não é o destaque, pois já era de se esperar que o ping-pong se mantivesse por lá. Não só! Os galos grandes querem, para começar, a Secretária-Geral do partido.
Dizem os jornais: “já ocorrem digladiações internas entre as três dinastias (Sul, Centro e Norte) da gema da Frelimo, para tomar a segunda cadeira do poder partidário. Inicialmente, parece que o plano é afastar Roque Silva – homem do sul – do cargo de Secretário-Geral da Frelimo, pois, no seio do partido, depois do Presidente, é a figura com maior expressão e “poder” de decisão”.
Dizem os jornais: “o caminho que ainda restava para ser trilhado por Roque Silva estava minado, em toda a sua órbita, sendo que os sapadores são um Ministro, um Secretário de Estado – os dois muitos próximos a Anchita Talapa – e Chaquil Aboubakar. O SG da Frelimo também está em rota de colisão com o actual porta-voz do partido, Caifadine Manasse [do Niassa]”.
“Refira-se, no entanto, que apesar de serem os mais visíveis e conhecidos, estes não são os únicos grupos que colidem com o SG. Sabe-se, por exemplo, que existem aqueles que pretendem controlar o partido, sendo que alguns estão representados na própria Comissão Política da Frelimo e conhecem o poder efectivo de um SG, ao qual procuram fazer frente por via do seu estatuto interno”, escreveu um dos jornais, frisando que além destas menções, “o SG da Frelimo tem muitos inimigos”.
Abutres no alto-mar, Roque Silva entregue à carnificina
Conta um jornal: o presidente da Frelimo, junto de Roque Silva e outro responsável da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional ruinaram-se para antecipar um sucessor de Anchia Talapa e chagaram a um acordo. O nome proposto foi o de um jovem natural de Maputo (Sul), e já estava tudo encetado para correr como o planificado. No entanto, o presidente do partido teria sido avisado que o tal jovem pertencia à ala do seu antecessor, Armando Guebuza, e que isso poderia render-lhe uma rasteira. Criado o ambiente dúbio, convocou-se um encontro entre o presidente do partido e outros 17 membros do partido na ausência de Roque Silva. A conclusão a que se chegou foi a de lançar para a presidência da OJM um outro nome, e assim foi. Este teria sido o primeiro grande-golpe para Roque Silva.
Esta semana, na quarta-feira, a Frelimo, por via do seu Secretário-Geral veio a público anunciar que o actual presidente do partido, Filipe Nyusi, é o candidato a sua própria sucessão, ou seja, corre para um terceiro mandato consecutivo. Diz-se, nos meandros da política, que, na política da Frelimo, esta marcha vai em contra-mão. Entre os camaradas, só se pode ocupar aquele cargo por dois mandatos consecutivos. Nyusi já está no fim do seu segundo mandato, mas as coisas podem estar em vias de mudança.
Um tempo depois deste anúncio, ainda na quarta-feira, a Comissão Política da Frelimo reuniu-se para debater os pontos arrolados na sua agenda. No entanto, com a notícia da candidatura de Nyusi a sua própria sucessão confirmada e no debate público, um membro do Comité Central legitimou-se a levantar discussão sobre um possível terceiro mandato de Nyusi à Presidência da República. A Frelimo parece desgostar da ideia.
“A Comissão Política lamenta e repudia veementemente a atitude do camarada Castigo Langa, Membro do Comité Central, em ter levantado no decurso da II Sessão Extraordinária do Comité Central, um ponto fora da agenda aprovada e, à posterior, ter feito circular uma carta nas redes sociais, com afirmações que atentam a imagem do Partido e integridade do seu Presidente”, lê-se no comunicado da Comissão Política do partido, citado pela Sala da Paz.
Tudo ficará decidido nas eleições do órgãos do partido durante o XII Congresso, que se realiza entre 23 e 28 de Setembro, na Matola.
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