A analista da agência de notação financeira Standard & Poor’s (S&P) que segue Angola considerou este domingo à Lusa que a implementação das reformas estruturais pelo Governo foi crucial para a melhoria do ‘rating’ do país.
“O aspecto das reformas foi fundamental para a melhoria do rating”, disse Zahabia Gupta em entrevista à agência Lusa, na semana a seguir à S&P ter melhorado a opinião sobre a qualidade do crédito soberano de Angola, de CCC+ para B-.
“O Governo esteve muito empenhado no programa de reformas, tiveram um programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e vimos o governo a implementar reformas muito difíceis; o impacto imediato foi muito duro para eles, porque a inflação subiu para dois dígitos em vários anos, e a pobreza é muito alta no país, a população sentiu alguma dor, mas do lado orçamental estiveram muito empenhados em cortar a despesa e aumentar a base tributária, e estão a ver os resultados disso”, disse a analista à Lusa.
Questionada sobre a capacidade de Luanda manter o ritmo de reformas em ano eleitoral, Zahabia Gupta admitiu que os anos eleitorais são sempre mais difíceis, quer em termos de medidas reformistas, quer em termos de manutenção do equilíbrio nas contas públicas, mas salientou que esses ‘perigos’ estão já incorporados nas previsões.
“Há vários riscos nas reformas; um é que o programa do FMI acabou, e servia de âncora política, teremos de ver o empenho nas reformas sem o FMI este ano; o segundo risco é que há eleições, e isso cria pressão para uma despesa adicional, vemos uma frente unida na oposição, com esporádicos protestos por causa da economia, há a possibilidade de o governo gastar mais para apaziguar a população, mas isso está embutido nas nossas previsões, isto é, antevemos algumas derrapagem, mas esperamos, no geral, que continuem as reformas para diversificar as fontes de receitas e a economia”, respondeu a analista.
Sobre a possibilidade de Angola negociar com o FMI outro programa de ajustamento financeiro, depois dos 4,5 mil milhões de dólares recebidos nos últimos três anos, Zahabia Gupta afirma que isso não é provável.
“O governo não pediu outro programa, em termos de necessidades de financiamento as autoridades consideram que não precisam de mais fundos, têm almofadas orçamentais suficientes em reservas externas e os preços do petróleo estão a 90 dólares por barril, apesar de a nossa estimativa ser de 75 dólares por barril para o conjunto do ano, mas a este nível acham que não precisam de mais financiamento”, disse a analista.
Ainda assim, admitiu que “o governo pode escolher adotar um programa não financiado do FMI que sirva de âncora política e aumente a confiança dos investidores”.
Entretanto, Angola planeia voltar aos mercados internacionais de dívida já este trimestre, emitindo um valor indicativo de 2,8 mil milhões de dólares, de acordo com o plano de endividamento publicado este mês.