Quase metade dos navios industriais e semi-industriais envolvidos na pesca ilegal operam em África, e a maioria têm origem chinesa e europeia, segundo um relatório divulgado pela Financial Transparency Coalition (FTC).
A prática não só contribui para a pesca excessiva, como também afecta os países em desenvolvimento, que perdem “milhares de milhões de dólares” em “fluxos de dinheiro ilícito” ligados à pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INDNR, sigla em espanhol) todos os anos.
A análise recorda que a INDNR leva a que mais de 90% dos ‘stocks’ mundiais de peixe sejam “totalmente explorados, sobre-explorados ou esgotados”, de acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) relatadas pela FTC.
Além disso, esta prática, o crime “mais lucrativo” contra os recursos naturais depois da madeira e da mineração, representa um quinto das capturas pesqueiras do mundo com um valor que pode atingir os 23,5 mil milhões de dólares (23,43 mil milhões de euros).
“A pesca ilegal é uma indústria maciça que ameaça directamente a subsistência de milhões de pessoas na América Latina e no resto do mundo, especialmente as que vivem em comunidades costeiras em países em desenvolvimento já afectados pela pandemia da covid-19, o custo de vida e o impacto das alterações climáticas”, afirmou Matti Kohonen, director executivo da FTC, num comunicado.
O responsável lembrou ainda que os proprietários dos navios continuam a operar com “imunidade total” devido, entre outras coisas, a “estruturas empresariais complexas”, que dificultam a sua identificação e julgamento pelas autoridades.
O relatório da FTC, que reúne 11 organizações não-governamentais (ONG), concluiu que a Argentina e a África, por exemplo, perdem, anualmente, 2 mil milhões (2,25 mil milhões de euros) e até 11,49 mil milhões de dólares (11,46 mil milhões de euros), respectivamente, como resultado da pesca INDNR.
O documento, intitulado “Redes suspeitas: descobrindo as empresas e indivíduos por detrás da pesca ilegal em todo o mundo”, indica que as “dez maiores empresas envolvidas” representam quase 25% de todos os casos denunciados.
Oito destas empresas são da China, uma da Colômbia e uma de Espanha, de acordo com a FTC.
O relatório da FTC citado pela Lusa, afirma, ainda, que 54,7% da pesca INDNR é realizada por navios industriais e semi-industriais “com bandeira asiática”, enquanto 16,1%, 13,5% e 12,8% utilizam bandeiras de países da América Latina, África e Europa, respectivamente.
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