“Primeira pandemia em Moçambique foi a dívida oculta”, considera Manuel de Araújo

“Primeira pandemia em Moçambique foi a dívida oculta”, considera Manuel de Araújo

O presidente do Município de Quelimane, Manuel de Araújo, considerou esta quarta-feira à Lusa que a primeira pandemia que Moçambique enfrentou foi o escândalo das dívidas ocultas, cujos efeitos vão sentir-se por “mais dois ou três anos”.

“Temos tido desafios por causa da covid-19, tivemos muitas adversidades e dificuldades por causa da pandemia, foi difícil fazer parcerias, mas a covid-19 foi a segunda pandemia, a primeira foi a das dívidas ocultas, que afectou bastante a forma como o mundo vê Moçambique”, disse Manuel de Araújo, em entrevista à Lusa em Carcavelos, nos arredores de Lisboa.

“Os parceiros ainda têm algumas dificuldades em conceber parcerias a médio e pequeno nível, ao contrário das grandes multinacionais do gás e dos minérios, que não se importam com a imagem do país, aliás as grandes multinacionais nunca pararam de investir na Nigéria e na África do Sul mesmo no tempo do `apartheid` [segregação racial], mas as pequenas e médias empresas são muito sensíveis e nós, no poder local, enfrentamos muitas dificuldades e sentimos o impacto das dívidas ocultas porque os parceiros da cooperação deixaram de apoiar o orçamento”, referiu.

Manuel de Araújo falava à margem da sua participação na Conferência Novafrica 2022 sobre Desenvolvimento Económico, em Carcavelos, concelho de Cascais.

Para o autarca de Quelimane, a suspensão da ajuda orçamental dada pelas instituições e doadores internacionais, no seguimento da divulgação, em Abril de 2016, de dívidas de empresas públicas contraída com aval do Estado, mas sem divulgação interna ou externa, no valor de mais de mil milhões de dólares, afectou muito os municípios.

“O Orçamento do Estado, sem componente externa, ficou muito reduzido, e o parente pobre na distribuição desse pouco que havia foram os governos locais, por isso sofremos por duas vias os efeitos das dívidas ocultas e, como se não bastasse, ainda tivemos dois anos de covid”, lamentou o autarca.

Questionado sobre se a desconfiança no país já está ultrapassada, seis anos depois da primeira notícia sobre os empréstimos, publicada em Abril de 2016 pelo Wall Street Journal, Manuel de Araújo respondeu que não.

“[Os parceiros] não ultrapassaram ainda, é um processo, só agora é que o Banco Mundial aceitou voltar, há um mês, e isso vai ter um efeito positivo, mas para isso descer até ao nível das pequenas e médias empresas, vai levar um ou dois ou três anos”, afirmou o autarca, para quem a situação em Cabo Delgado também age como um constrangimento ao investimento no país.

“Tenho em Quelimane alguns empresários com empreendimentos na província de Cabo Delgado que regressaram e abandonaram os investimentos, por exemplo na restauração e na prestação de serviços, especialmente agora, com este último ataque em Metoro, a 50 quilómetros de Pemba, cidade onde é preciso uma coluna militar para se poder entrar e sair”, explicou o autarca.

Considerando que Moçambique é um país que está muito visível na comunicação social por causa da entrada para o Conselho de Segurança das Nações Unidas como membro não permanente, das grandes reservas de gás e pelo anúncio da Tesla sobre o interesse no grafite do país, Manuel de Araújo admitiu que isso potencia a actuação terrorista.

“Isto torna Moçambique muito mais apetecível para os ataques de ideologia terrorista, e o país não estava preparado, é preciso perceber que um ataque em Moçambique tem hoje uma cobertura [noticiosa] maior que antes porque está no Conselho de Segurança e a Tesla, a empresa do futuro, disse que quer comprar o grafite do país”, declarou Manuel de Araújo.

“O orçamento para apoiar os terroristas vai aumentar e o nível dos ataques também, esta semana houve o primeiro ataque em Nampula, e com isso já são três províncias afectadas, Cabo Delgado, Niassa e Nampula, agora”, concluiu.

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