O economista-chefe do Standard Bank em Moçambique referiu que o preço do gasóleo aumenta mais lentamente no país e está 20% mais barato que na África do Sul, considerando que ajuda travar a inflação em 2022.
“Consideramos no nosso modelo [de previsões] que o ajustamento do preço do combustível em Moçambique não será [feito] ao ritmo que o mercado exige”, referiu Fáusio Mussá, em entrevista à agência Lusa.
A guerra na Ucrânia eclodiu numa altura em que o mundo ainda sofre com vários choques pós-covid nas cadeias de fornecimento, o que está a alimentar níveis de inflação recorde a uma escala global.
Ainda assim, o Standard Bank prevê inflação a um dígito (abaixo dos 10%) em Moçambique e um recuo nos anos seguintes, com taxas de 9,4% (2022), 7,3% (2023), 6,5% (2024) e 5,9% (2025).
“O Orçamento do Estado não prevê nenhum subsídio aos combustíveis, mas os operadores estão dispostos a continuar a importar na expectativa de que haverá um acordo com o Governo para serem compensados por causa das perdas em que estão a incorrer” ao manter os preços, explicou, no que classificou como “uma situação típica de Moçambique”.
Além deste arrastar de preços nos postos de combustível, Moçambique entra nos meses de Abril e Maio numa fase em que o custo dos alimentos “tende a baixar” devido ao crescimento sazonal da produção agrícola local.
“Este ano pode ser que, por causa do impacto das chuvas, este período” de deflação “ocorra um pouco mais tarde”, mas, seja em que altura for, influencia a previsão do banco Standard.
Em paralelo, o banco central mantém as taxas de juro altas para controlar a inflação: a ‘prime rate’ para as operações de crédito em Moçambique subiu 50 pontos base para 19,1% em Maio, após sete meses sem alterações.
“Se nós considerarmos a inflação como um imposto para os mais desfavorecidos, esta política do banco central tende a minimizar o impacto para a maioria da economia: mais de 50% da população moçambicana é extremamente pobre”, referiu Fáusio Mussá.
Segundo o analista, “taxas de juro mais altas afectam um segmento do mercado que tem acesso ao financiamento”, mas é “um segmento” de rendimentos médios e altos, face a uma maioria da população moçambicana muito sensível à inflação.
“O preço de não tomar medidas para ajudar a conter a inflação, na minha opinião, é muito mais alto”, mesmo com as limitações ao crescimento económico e à criação de emprego que taxas de juro altas podem trazer, referiu.
“Manter a estabilidade macroeconómica sai caro. Tínhamos uma expectativa de crescimento para este ano de 3,1% que ajustámos para 2,8%, um crescimento mais lento e esse é se calhar o custo da estabilidade macroeconómica”, referiu.
O banco Standard Moçambique prevê taxas de crescimento do PIB de 2,8% para este ano (descontando já o impacto da guerra na Ucrânia e riscos inflacionários globais), 3,7% no próximo, 4,1% em 2024 e 4,3% em 2025.