Perspectivas Económicas: Crescimento da Economia Moçambicana Pós-Pandemia

De acordo com o Rand Merchant Bank (RMB), parceiro bancário corporativo e de investimento do Banco FirstRand, do qual o FNB Moçambique é parte integrante, os efeitos negativos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia continuam a afectar as economias africanas, de um modo geral. A par dos efeitos prolongados da pandemia, esta situação tem contribuído para o agravamento dos preços do petróleo e dos produtos alimentares.

O agravamento significativo dos preços e os desafios a nível da oferta, têm sido uma constante desde o início do ano. Os preços do trigo e de outros cereais aumentaram consideravelmente e é de prever uma inflação crescente. Os preços de bens e serviços também reflectiram este agravamento.

As perturbações maciças nos últimos dois anos, decorrentes da pandemia, afectaram os custos de abastecimento das empresas, com um aumento entre 10% a 15%. Prevêem-se custos adicionais para este ano, uma vez que a economia global não retomou na íntegra. A China mantem a restrição de movimentos, decorrente da pandemia, e a guerra tem afectado o comércio europeu.

Moçambique deverá, apesar dos desafios, registar um crescimento superior a 4% nos próximos anos tendo em conta o arranque do projecto de gás natural liquefeito Coral Sul (GNL) e o facto de as despesas governamentais em áreas chave permanecerem fortes.

“O nosso cenário base para 2022 aponta para um crescimento do PIB na ordem dos 4.1%, antes de alcançar os 5.1% em 2023”, disse Daniel Kavishe, economista do RMB Africa.

É de prever o crescimento dos sectores da agricultura e da construção, este ano.

Kavishe referiu, ainda: “É provável que o sector da construção beneficie com o suporte do orçamento expansionista proposto pelo governo, enquanto se espera um crescimento contínuo da agricultura, dada a previsão de chuvas constantes em toda a região. Quanto ao sector de exploração mineira, é expectável que a produção de carvão, grafite e rubi cresça ao longo do ano, resultando em um impulso significativo para o desempenho geral da economia moçambicana e na redução do acentuado défice da conta corrente”.

O comité de política monetária de Moçambique optou por aumentar as taxas de juro em 200bp em Março, um sinal em como o banco central encara a inflação com cautela.

” O Banco Central almeja alcançar uma inflação de um dígito, sugerindo que o regulador acredita que a inflação passará os 10%, a curto e médio prazo”, diz Kavishe.

Os receios de inflação são alimentados pelos preços globais do petróleo, 70% mais elevados numa base anual, e pelos preços inflacionados dos alimentos – ambos acentuados pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Contudo, prevê-se que a economia continue a crescer este ano à medida que as indústrias extractivas ganham ímpeto, considerando o agravamento dos preços de produtos básicos. A actividade em torno do sector do gás poderá representar um impulso ainda maior para o desempenho económico de Moçambique.

“Em suma, acreditamos que a subida da taxa MIMO dos 13.25% para 15.25% em Março, pode ter sido prematura, dadas as nossas estimativas que sugerem uma inflação alinhada com o objectivo do Banco Central a curto e médio prazo”, disse Kavishe.

“A subida poderá, além disso, aliviar a taxa de financiamento das empresas, considerando que estas se encontram, ainda, em fase de recuperação da pandemia. Por outro lado, os aumentos antecipados permitem ao Banco Central permanecer proactivo tendo em conta o agravamento iminente das taxas de juro mundiais em200bp, nos próximos dois a três anos. Não prevemos novas subidas de taxas em Moçambique, em 2022”.

A equipa do FMI chegou a um acordo com as autoridades moçambicanas sobre um novo acordo ao abrigo da Facilidade de Crédito Alargada (ECF) referente a 2022-2025, com o objectivo de apoiar o crescimento sustentável, inclusivo e a estabilidade macroeconómica a longo prazo. O programa trienal deverá atingir os 341 milhões de DES ou 470 milhões de dólares.

“A economia moçambicana tem sofrido os impactos das condições climáticas severas ao longo dos últimos anos, como os ciclones sucessivos que afectaram diferentes vertentes da economia. As restrições impostas durante a pandemia reduziram ainda mais o desempenho económico. Entretanto, os investimentos e desenvolvimentos nos sectores do petróleo e do gás foram dificultados por ataques terroristas em locais chave em toda a área de exploração”, disse Kavishe.

O programa do FMI será preponderante para impulsionar as reformas fiscais no interior do país.

“Aguardamos, ainda, a aprovação do Conselho do FMI durante o 1º Semestre de 2022, uma vez que as discussões já se arrastam há algum tempo e, ao contrário de outros países, Moçambique não tem vindo a reestruturar a sua dívida. De um modo geral, a medida será positiva e deverá apoiar o Metical durante o 2º Semestre de 2022”, conclui Kavishe.

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