Moçambique perde 20 mil milhões em impostos anualmente. ONG culpa os incentivos fiscais concedidos às multinacionais

Moçambique perde 20 mil milhões em impostos anualmente. ONG culpa os incentivos fiscais concedidos às multinacionais

Dados divulgados pelo State of Tax Justice, um relatório que avalia o desempenho dos sistemas tributários no mundo, coloca Moçambique como um dos países de África que mais sofre com perdas fiscais, ascendendo a cerca de 333,5 milhões de dólares (21,4 mil milhões de meticais) por ano no cambio do dia.

Este valor em três anos corresponde a mais de mil milhões de dólares em perdas para os cofres do Estado, cerca de 300 milhões de dólares acima do plano que o país precisou mobilizar para responder à Covid-19 nos sectores de protecção social, saúde, obras públicas e habitação, sector empresarial e de educação, segundo Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não governamental (ONG).

Para o CDD a culpa reside na ineficiência dos sistemas fiscais, com destaque para abusos fiscais pelas multinacionais.

A ONG diz no seu mais recente documento que os inúmeros incentivos fiscais concedidos às multinacionais com o objectivo de atracção de investimento, resultam em recursos perdidos e o seu custo-benefício não é devidamente monitorado e avaliado pela Autoridade Tributaria (AT).

“Embora sejam ainda estimativas, o nível de colecta poderia estar muito acima se o governo, mormente o Ministério da Economia e Finanças (MEF), resolvesse as diversas ineficiências no processo de arrecadação de receitas no país”, indica o documento da ONG que o MZNews teve acesso.

A ONG vai mais longe e acusa o governo de nada fazer para reavaliar os contratos em vigor, e denuncia o uso de esquemas de planeamento tributário agressivo por parte de um grande número de multinacionais.

“Não é uma notícia nova para o MEF e nem para a AT que crescente número de multinacionais tem usado tratados fiscais em esquemas de planeamento tributário agressivo, tornando os acordos de dupla tributação num dos principais canais que minam a mobilização doméstica de recursos”, lê-se no documento da ONG.

“Mesmo ciente deste facto, até ao momento, as instituições nada fizeram para reavaliar os tratados em vigor, assegurando que não sejam utilizados indevidamente e que o benefício dos mesmos opere em benefício dos Moçambicano”, constata a ONG.

A ONG lembra que Moçambique tem um total de nove tratados em vigor, dos quais apenas um (1), com a Índia, previne práticas de abuso fiscal, conforme.

“Os restantes oito (8) tratados aumentam a vulnerabilidade do sistema tributário moçambicano e limitam a capacidade de protecção dos seus direitos tributários”, salienta a organização.

A ONG denuncia igualmente a existem de inúmeros incentivos fiscais desnecessários para as multinacionais que operam em Moçambique. “Esses incentivos são caros para o país e levam a perdas de receita”, afirma a organização.

Como solução, o CDD sugere a implementação de medidas mais rígidas para evitar o abuso de tratados fiscais, a realização de análises de custo-benefício dos incentivos fiscais e a melhoria dos níveis de transparência e responsabilização.

“Só com estas medidas o governo poderá garantir que os recursos do país sejam utilizados para combater a pobreza e a desigualdade, e para construir um futuro mais inclusivo e sustentável para todos os moçambicanos”, concluo.

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