Moçambique é o trunfo para o futuro… e a transição energética não depende só das renováveis

“Há milhões de pessoas que ainda não tem acesso à energia, e a sua necessidade não pode ser satisfeita apenas através de energias renováveis”

A criação de uma infra-estrutura de gás em África que sirva de ponte para a transição energética é o tópico líder nos debates de hoje. Mas, as conversas por vezes esquecem-se de que já existem gasodutos virtuais. A GL Energy, através da região dos Grandes Lagos e da África Austral, e várias companhias de gás, na Nigéria, já o estão a fazer.

A GL Energy, e particular, assume que  o recente acordo de concessão assinado com o Governo moçambicano para uma central eléctrica de GNL de 250MW, em Nacala, na província de Nampula, representa um ponto de ancoragem para um gasoduto virtual.

Segundo o CEO da Energy Business da Janus Continental Group Strategic, a empresa holding da GL Energy, Mamadou Goumble,  a empresa pretende gerar cerca de 1.000MW em todo o continente até 2025 e uma grande parte desse plano está relacionado com o gás. Embora numa primeira fase a central eléctrica em Moçambique recorra ao gás importado, o plano é, a posterior, recorrer ao gás doméstico.

Além do projecto da central em Moçambique, A GL Energy  tenciona converter duas das suas centrais eléctricas na Zâmbia e no Uganda, que utilizam energia solar, em centrais alimentadas a gás. Estas centrais vão recorrer à unidade da FSRU projectada para a cidade de Nacala como o poço dos gasodutos virtuais em toda a região.

O armazenamento de energia é a chave para a transformação energética de África

Por outro lado, a GL Energy  estuda a possibilidade de armazenar energia, investigando como a empresa pode tirar partido do investimento de JCG num desenvolvedor de sistemas de retenção de energia de longa duração de ar líquido sediado no Reino Unido.

“Acreditamos que precisamos de ter a mistura certa de energia e isso só seria possível se tivéssemos armazenamento de energia. Todas as nossas estratégias são construídas em torno disso, armazenamento e gás”, disse Goumble.

A sua crença é que assim que Moçambique começar a produzir gás a sua empresa de energia Electricidades de Moçambique seria capaz de oferecer um preço mais barato pela electricidade.

“A EDM já é um exportador de energia, mas quando chegar à fase dos 250MW, terá de haver um novo investimento na linha [de transmissão]. Acreditamos que ajudaria o Pool de Energia da África Austral (SAPP) com mais produção e permitiria mais comércio”, previu.

O posicionamento da sua central de gás natural liquefeito de Moçambique destinava-se, em parte, a ajudar a criar estabilidade para a rede do norte, mas também a tirar partido da futura produção doméstica de gás na área.

O GNL está a revelar-se muito fácil de transportar e versátil

O seu estudo sobre os vários cenários de custo de gasodutos mostrou que o GNL fazia o maior sentido financeiro porque é uma solução eminentemente de fácil transporte.

“Quando se tem o GNL a chegar, mesmo em pequena escala, permite que a vizinhança comece a converter-se. Se o Rovuma [projecto GNL] chegar hoje, ninguém está pronto. Estamos a pensar, com a EDM, em como permitir que o GNL seja comercializado. Esse GNL extra do FSRU vai desencadear uma transformação. A partir do momento em que as operações do Rovuma iniciarem, talvez seja necessário esperar mais cinco anos para que todos, como as indústrias mineiras, transformem o seu equipamento para utilizar gás”.

Fora do gasoduto Romco de Moçambique para a África do Sul, não existem outras condutas físicas que transportem gás através da região do SAPP, mas mais uma vez Goumble regressa à segurança do transporte de GNL. Eles vêem as minas de África como um potencial especialmente grande para o desvio.

Gasodutos virtuais estendem-se para além do GNL

Eventualmente, o hidrogénio também fará parte da mistura energética e, com os avanços tecnológicos certos, poderá mesmo substituir o gás, mas Goumble vê esta possibilidade como bastante remota.

O maior mercado que identificaram para a utilização do GNL no futuro imediato é a África do Sul, mas as soluções de “cozinha limpa” em toda a África é um sector que também estão a investigar.

“A ideia é criar uma procura e isso leva ao desenvolvimento. Há milhões de pessoas que ainda não tem acesso a energia, e a sua necessidade não pode ser satisfeita apenas através de energias renováveis. A eficiência do continente está dependente da estabilidade”, disse Goumble.

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