Moçambique e Itália unem-se na protecção da biodiversidade

A preservação do meio ambiente e a protecção da biodiversidade são duas áreas fundamentais para o desenvolvimento de Moçambique.

O país tem um enorme potencial em termos de recursos naturais e a maioria da população depende directamente da biodiversidade e serviços dos ecossistemas para a sua sobrevivência.

Apesar da sua elevada diversidade, a flora moçambicana tem recebido uma cobertura de investigação limitada permanecendo pouco conhecida. A prolongada instabilidade do país causada pela guerra de independência (1964-1975) e subsequente conflito armado (1977 -1992) resultou num longo período em que a investigação da biodiversidade foi negligenciada.

Nas últimas duas décadas, felizmente, tem havido um notável aumento de expedições botânicas, marcando Moçambique entre os países com maior taxa de descoberta de novas espécies em África. O mais recente estudo, uma lista actualizada das plantas vasculares de Moçambique (Délcio Odorico et al., Phytokeys, janeiro 2022), contém classificação taxonómica, atributos biológicos e morfológicos, distribuição geográfica, endemismo, risco de extinção, e informação etnobotânica.

A pesquisa feita no âmbito do Projecto SECOSUD II “Conservação e utilização equitativa da diversidade biológica na região da SADC: do sistema de informação geográfica (GIS) ao Sistema de Apoio à Decisão Sistémica Espacial”, financiado pela Agência Italiana de Cooperação para o Desenvolvimento (AICS).

Pesquisadores da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), juntamente com colegas de diversas instituições, como a Università La Sapienza de Roma, entre outras, produziram a lista actualizada das plantas vasculares de Moçambique, resumindo dados de fontes bibliográficas relevantes, colecções de herbários e bases de dados botânicas autorizadas.

O estudo resulta ser fiável para futuros estudos botânicos em Moçambique, para orientar mais investigação botânica e para apoiar o planeamento da conservação da biodiversidade.

Das análises dos dados recolhidos, as conclusões evidenciam a falta geral de informação sobre o estado de conservação das plantas vasculares de Moçambique, mostrando a necessidade urgente de mais estudos para identificar espécies ameaçadas e desenvolver estratégias de conservação adequadas. Cerca de 75,1% das espécies ameaçadas no País (Vulneráveis, Ameaçadas e Criticamente Ameaçadas) são endémicas de Moçambique, destacando a responsabilidade central do país para a conservação destas espécies.

Os principais factores de ameaça para as plantas vasculares no país são a perda e degradação do habitat, impulsionada pelo recente crescimento populacional e o consequente aumento da pressão sobre os ecossistemas naturais. Os dados mostram também como a crescente comercialização e a sobre-exploração de plantas medicinais estão a tornar-se uma ameaça crescente.

Um dos exemplos citados no estudo é da Warburgia salutaris (Xibaha em ronga), uma das plantas medicinais mais utilizadas na África Austral. Como consequência da crescente procura comercial nos últimos anos tem sido sujeita a uma colheita descontrolada, resultando numa generalizada mortalidade arbórea e mesmo na extinção de populações locais em muitas áreas, mudando o seu estatuto de conservação sendo considerada globalmente em perigo.

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