O jornalista e escritor moçambicano, Sérgio Raimundo, vai lançar o seu primeiro livro em prosa “A Ilha dos Mulatos”, no desacelerar da tarde desta terça-feira, na galeria ArtRoom, em Lisboa, Portugal.
Trata-se de um romance que se vive na Ilha de Moçambique, na província de Nampula, mais ao norte do país, – e, segundo a história, onde os portugueses fixaram a primeira capital moçambicana, ‘já prestes a desaparecer’.
O enredo centraliza uma família luso-descendente “mulatos” rodeada por mortes e investigação, o que faz a narrativa aproximar-se do género policial, onde cada personagem é o seu próprio narrador.
O livro, que sai sob tutela da Imprensa Nacional de Portugal, e hoje nos chega às mãos, igualmente espelha o contemporâneo moçambicano, apresentando situações que vão desde à homossexualidade, roçam o fundo de relações extraconjugais, e desaguam na dramática violência armada que assola a província de Cabo Delgado, bem perto d’ “A Ilha dos Mulatos”.
A apresentação da obra contará, para além do autor, com a presença da Professora de Literatura Fátima Mendonça e do escritor Miguel Luís.
Era por aquela porta que a água, costurada em tecidos de ondas, se movia sem precisar de chave para entrar. Enquanto entrava podia ouvir-se passos de outra água saindo apressada.
A obra foi distinguida com o Prémio Literário INCM/Eugénio Lisboa, em 2019, com o valor de cinco mil euros [na altura cerca de 341,050 meticais]. A premiação, em homenagem ao escritor moçambicano Eugénio Lisboa, visa dar visibilidade a obras relevantes no domínio da prosa literária de escritores moçambicanos. No entanto, também podem concorrer escritores estrangeiros que residem na “Pátria Amada” há pelo menos dez anos.
Sérgio Simão Raimundo, também conhecido pelo pseudónimo “Poeta Militar”, nasceu em Maputo, em 1992. Iniciou-se nas lides da arte escrita como poeta. Em 2015 lançou o livro “Avental de um Poeta Doméstico”. Entretanto, mais e mais mergulhou-se nas letras publicando textos, na qualidade de colunista, em jornais nacionais e internacionais, incluindo tabloides. Tem uma pequena colecção (a cartão) de poesia publicada sob heterónimo de René Peter, “Síntese e Fragmentos da Emoção”. Há muito que participa de antologias de prosas e versos, em diversas latitudes.
“A Ilha de Moçambique foi sendo comida pelas águas do mar aos poucos. O silêncio começou a habitar toda a Ilha; já não era uma ilha, mas sim uma ruína de pedras gastas pela água do mar e lapidadas pelas mãos do vento. […] Da porta branca da Fortaleza de São Sebastião restava apenas um pilar que tinha mais ferros que cimento. Era por aquela porta que a água, costurada em tecidos de ondas, se movia sem precisar de chave para entrar. Enquanto entrava podia ouvir-se passos de outra água saindo apressada.” [Excerto retirado do site da Imprensa Nacional de Portugal, aos 16,11.2021].