Militares acusados de matar por engano um piloto sul-africano em Cabo Delgado

Um piloto sul-africano, com uma perna amputada, mas mesmo assim ainda tripulava, e um polícia moçambicano, foram mortos no dia 09 de Abril, na sequência de um ataque à aeronave em que as vítimas seguiam, no distrito de Macomia, na província de Cabo Delgado, alegadamente protagonizado por militares moçambicanos, escreve o jornal sul-africano City Press.

De acordo com o City Press, citado pelo Media Fax, o piloto sul-africano Mark Tout, 64 anos, foi contratado pela polícia moçambicana para participar em acções de combate contra os insurgentes extremistas, que actuam em Cabo Delgado.

A aeronave Bat hawk, fabricado na África do Sul, também desapareceu e as forças governamentais moçambicanas alegam que atiraram sobre o aparelho, porque pensavam que se tratava de um alvo inimigo.

Entretanto, os corpos das duas vítimas ainda não foram encontrados, apesar de as mortes terem acontecido no início deste mês.

Esse entendimento dos militares, prossegue o City Press, está relacionado com o facto de a aeronave estar na altura a sobrevoar a área na escuridão da noite.

O City Press frisa que as tensões entre o exército e a polícia moçambicana vem “fermentando” há anos.

Os “generais” da Forças Armadas acusam a polícia de interferência. Mas a tensão é também galvanizada por uma actuação melhor da polícia na luta contra os insurgentes em Cabo Delgado.

“A possibilidade de as tensões entre as duas partes terem jogado um papel no derrube da aeronave não é de descartar”, disseram fontes ao jornal sul-africano.

As autoridades sul-africanas ainda não foram informadas sobre os detalhes do incidente pela contraparte moçambicana.

O City Press sublinha que o distrito de Macomia, onde se deu o acontecimento, é palco de combates violentos entre as forças governamentais e os rebeldes.

Pelo menos três soldados morreram durante um ataque de insurgentes, a uma das posições das forças governamentais em Macomia.

O piloto sul-africano, morto no referido incidente, já tinha tido um despenhamento em 2020, quando trabalhava para a empresa de mercenários Dyck Advisory Group (DAG), que assinou contratos controversos com o Governo moçambicano.

Mark Tout teve a perna amputada quando era jovem, na sequência de um acidente de mota na África do Sul, contou um antigo amigo Carys Smith.

A outra perna de Tout também não foi amputada por pouco, tal foi a gravidade do acidente, acrescentou Smith.

Do acidente em 2020 em Cabo Delgado, o piloto saiu gravemente ferido e a sua evacuação para África do Sul demorou, devido aos constrangimentos que estavam a ser criados pela pandemia de covid-19.

O embaixador da África do Sul em Moçambique, General Siphiwe Nyanda, disse ao City Press, que o Departamento de Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, enviou, na sexta-feira passada, uma nota diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, solicitando ajuda para a localização dos corpos das vítimas.

“A única resposta foi que o Ministério do Interior foi incumbido para encontrar uma solução”, diz a matéria do City Press. Até ao fecho da presente edição, a Polícia em Moçambique ainda não havia feito qualquer comentário oficial sobre o assunto.

No entanto, fontes ligadas às Forças de Defesa e Segurança relataram que Mark Tout ajudou na localização das bases dos insurgentes, através do seu equipamento.

“Mark era destemido e vivia de acordo com as suas próprias regras. Era excêntrico e era viciado em adrenalina. Depois de perder a sua perna, começou a praticar atletismo, jogou hóquei e decidiu tornar-se caçador profissional”, contou uma fonte próxima do piloto.

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