Incerteza eleitoral volta a Angola 30 anos depois

Incerteza eleitoral volta a Angola 30 anos depois

A UNITA revitalizou-se com a liderança de Adalberto da Costa Júnior e uma estratégia de comunicação assente nas redes sociais. O MPLA fez a ruptura com Eduardo dos Santos, mas João Lourenço tem sido penalizado pela crise económica provocada pela covid-19.

Em 1992, a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), então liderada por Jonas Savimbi, acalentava o sonho de vencer as primeiras eleições no país. A disputa foi acesa, mas a história acabou mal. A UNITA não reconheceu a vitória do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) e o país voltou a mergulhar numa guerra civil que só terminou em 2002 com a morte de Savimbi.

Trinta anos depois, as eleições gerais de 24 de Agosto de 2022 são aquelas em que a UNITA recupera as esperanças de poder bater o MPLA nas urnas. Em 2008, 2012 e 2017, as idas às urnas foram sempre um passeio no parque para o MPLA, mas as circunstâncias mudaram com a saída de José Eduardo dos Santos e a eleição de João Lourenço e uma profunda crise económica largamente atribuível à pandemia de covid-19.

“A UNITA está revitalizada, com um novo líder [Adalberto da Costa Júnior] e novas ideias, e apresentou uma lista de candidatos que inclui membros de outros partidos da oposição e personalidades da sociedade. A popularidade do MPLA é baixa, especialmente entre o eleitorado urbano. O Presidente Lourenço, que se candidata ao seu segundo mandato, prometeu mais transparência, menos corrupção e governação inclusiva, mas no final do primeiro mandato, o seu governo é tão autoritário e altamente criticado como o de seu antecessor”, constata Borges Nhamirre, num relatório intitulado “Free and fair? Angola’s uneven election playing field” (Livre e Justo? O desigual campo de jogo eleitoral de Angola) publicado este mês pelo “think tank” sul-africano ISS – Institute for Security Studies. Segundo o jornal de Negócios, espera-se, no entanto, que uma eventual turbulência pós-eleitoral não atinja os níveis de 1992.

Os novos ingredientes

A realidade é que as eleições de 2022 estão marcadas por ingredientes completamente novos. João Lourenço, apesar das críticas, abriu o regime e permitiu o desenvolvimento de uma cultura da crítica, sendo que a sua luta contra a corrupção fraccionou o MPLA e fez nascer uma inédita oposição interna. Paradoxalmente, os ventos de democratização, empurrados por uma recessão que fez disparar o desemprego e foi devastadora para uma incipiente classe média, acabaram por o fragilizar, dando robustez às narrativas que reclamam uma alternância de poder.

Existe uma diferença assinalável entre a percepção exterior que se tem das eleições em Angola, baseada na visão urbana de Luanda e na informação e contra-informação que circula nas redes sociais, e o que se passa efectivamente nas 18 províncias do país, onde os anseios não são iguais aos que são reportados pela capital do país.

O resultado de 24 de Agosto é bastante imprevisível. Uma sondagem dos espanhóis da Sigma Dos aponta para uma vitória do MPLA, com 57,8% dos votos, que lhe permitirá conquistar entre 130 e 138 deputados (actualmente tem 150). Já a UNITA terá 37,3% dos votos, que lhe dará de 75 a 83 deputados (em 2017 elegeu 51). A Assembleia Nacional é formada por 220 deputados.

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