Uma investigação de um grupo de 11 jornalistas, denominadas “Swazi Secrets”, desvendaram transacções suspeita de milhões de dólares entre figuras políticas da África do Sul e o auto-proclamado arcebispo suazi, Rebios Bheki Sigaca Lukhele, da Igreja Cristã de Todas as Nações em Zion.
Segundo uma publicação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, sigla em inglês), as transacções foram reveladas com base numa fuga de centenas de milhares de documentos da Unidade de Informação Financeira do Essuatíni (EFIU).
“Entre Abril de 2017 e Fevereiro de 2018 – o mês em que [Jacob] Zuma foi obrigado pelo seu partido a abandonar o cargo de Presidente [da República da África do Sul] em favor de Ramaphosa – a conta de Lukhele recebeu mais de 3,9 milhões de dólares de várias fontes, incluindo 3,1 milhões de dólares em pagamentos rotulados com os nomes de seis empresas sul-africanas, de acordo com a análise da EFIU”, lê-se.
Estes fundos ligam o suposto arcebispo e a sua igreja a Sibusisiwe Mngomezulu, embaixador do Essuatíni na Bélgica e na União Europeia e cunhado do rei do Essuatíni, Mswati III. Mngomezulu tem ligações ao partido no poder na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), através do braço financeiro do partido. É também parceiro de negócios do Director financeiro do partido, Bongani Mahlalela, que também esteve envolvido nestas transacções.
“O banco de Lukhele, o First National Bank, comunicou mais tarde à EFIU que algumas das transacções pagas nas contas das empresas sul-africanas estavam identificadas como ANC e Bongani Mahlalela”, lê-se, além de que “Mahlalela aparece na descrição de muitos pagamentos feitos a Lukhele, embora não seja claro se esses pagamentos estão relacionados com o Director Financeiro”.
Os documentos da fuga de informação mostram que o fluxo de transacções suspeitas, ao longo de vários anos, incluía dinheiro proveniente do ANC. Também demonstram várias ligações adicionais entre as transacções suspeitas e o ANC e os principais dirigentes do partido.
“Uma vez nas contas de Lukhele, o dinheiro foi utilizado para comprar propriedades residenciais e comerciais, principalmente em Essuatíni, e veículos, incluindo um autocarro, camiões e carros de luxo, ou foi enviado para uma série de beneficiários. Alguns desses beneficiários não eram nada de especial, como artistas de gospel, mas outros eram membros do Parlamento de Essuatíni, o então presidente da Assembleia Municipal de Mbabane e o antigo vice-primeiro-ministro Themba Masuku”, lê-se na publicação do ICIJ.
A EFIU não conseguiu determinar por que razão estavam a ser enviadas quantias tão elevadas de dinheiro para Lukhele ou qual o papel desempenhado pelo ANC e por figuras de topo associadas ao partido. Mas acabou por suspeitar que Mngomezulu e o seu parceiro de negócios, Mahlalela, estavam a “desviar” dinheiro do partido e a escondê-lo em Essuatíni com a ajuda de Lukhele, ou que o partido era de alguma forma cúmplice e que Mahlalela estava a esconder dinheiro em nome do partido.
“O ANC irá ao fundo desta questão e, sem qualquer hesitação, tomará as medidas apropriadas caso se estabeleçam quaisquer incidências de irregularidades. Para o efeito, o ANC levará a cabo uma investigação exaustiva para determinar a veracidade das alegações”, disse uma fonte do ANC aos investigadores.
O Essuatíni está economicamente interligado e fortemente dependente da África do Sul, a potência económica regional. Dos quatro bancos comerciais que operam no Essuatíni, três são sul-africanos.
Uma das empresas sul-africanas que pagou a Lukhele foi a 2nd Thought Communications – ligada ao ANC –, que transferiu mais de 1 milhão de dólares para uma das contas pessoais de Lukhele só em 2017.
Os extractos bancários também mostram um padrão de outros pagamentos regulares em grandes quantias redondas, pagos na conta da 2nd Thought e imediatamente transferidos para a Lukhele. Pelo menos 1,4 milhões de dólares foram enviados para a Lukhele desta forma.
A 2nd Thought estava registada como uma empresa privada com dois proprietários. Um desses proprietários, Craig Coglin, é amigo de Mngomezulu e de Mahlalela.
As descrições de vários dos pagamentos recebidos, como “registered trustees of the Afr” – uma provável referência a Registered Trustees of the African National Congress, um organismo pouco conhecido do ANC – sugerem uma ligação ao ANC. Leia aqui a publicação original e na íntegra.
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