Há ignorância mútua entres as tropas estrangeiras em Cabo Delgado e o terrorismo continua – ISS

Uma investigação realizado pelo Institute for Security Studies (ISS) identificou “divisões profundas”, uma espécie de ignorância mútua entre as tropas estrangeiras destacadas para combater o terrorismo na província de Cabo Delgado.

Avança o portal noticiasaominuto (via Lusa) que quase falta diálogo entre as tropas da União Africana (UA) e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), sendo que o bloco regional ainda na manteve “discussões de alto nível com o Ruanda”.

“A investigação do ISS revela divisões profundas em Moçambique sobre os destacamentos ruandeses e da SADC. As organizações da sociedade civil do país questionam a transparência e o financiamento do destacamento ruandês” assinala Liesl Louw-Vaudran, investigadora principal do ISS.

O bloco regional da SADC enviou para Cabo Delgado três mil soldados no quadro da Missão da SADC em Moçambique (SAMIM) e o Ruanda enviou dois mil militares para enfrentar o Estado Islâmico.

“O destacamento da SADC é assinalado em documentos oficiais da UA como parte da sua Força Africana de Reserva. Mas até agora tem havido pouca comunicação entre a SADC e a UA a este respeito”, sublinha o estudo assinado por Liesl Louw-Vaudran.

“A investigação do ISS revela divisões profundas em Moçambique sobre os destacamentos ruandeses e da SADC. As organizações da sociedade civil do país questionam a transparência e o financiamento do destacamento ruandês”, acrescenta a investigadora.

O ISS revela que o terrorismo ainda continua a varrer toda a província de Cabo Delgado e sugere que “estratégias conjuntas com forças de segurança que puxem na mesma direcção conduziriam a um muito melhor resultado”.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) considera prematuro encorajar as populações a retornarem para as suas zonas de origem.

Louw-Vaudran explica que o Ruanda acredita que erradicar o terrorismo na província do norte de Moçambique “é vital para a sua própria segurança”, mas as “tensões entre a SADC e o Ruanda”, que remontam a divergências sobre os resultados eleitorais na República Democrática do Congo, no início de 2019, “persistem”.

Sempre que houve reuniões da SADC para debater a situação de Moçambique o Ruanda não foi convidado. O último encontro dos ministros do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC decorreu a 03 de Abril, em Pretória na África do Sul. Uma vez que ainda há incursões dos terroristas na região a expectativa é que os chefes de Estado do bloco ratifiquem uma decisão de prolongar a missão por mais três meses, até 15 de Julho de 2022.

O ISS considera que a UA “poderia ajudar” a garantir o sucesso das “soluções africanas” para Moçambique, “tem experiência” nesse domínio e “a maioria das suas resoluções salienta a necessidade de lidar com questões que conduzem ao extremismo violento”.

Porém, acrescenta, os Estados-membros da organização pan-africana “raramente aderem a estas políticas, e alguns veem a coordenação entre a UA e as comunidades económicas regionais, como a SADC, “como um obstáculo em vez de um benefício”.

“A primeira discussão do Conselho de Paz e Segurança da UA (CPS) sobre a SAMIM só aconteceu em Janeiro de 2022, seis meses após o seu destacamento. O CPS aprovou retroactivamente a missão e pediu financiamento e assistência material para a força”, sublinha o ISS.

A UA considera a SAMIM como “um dos primeiros destacamentos da Força de Reserva Africana” – uma engrenagem central no aparato da organização para a paz e segurança, porém, se os protocolos para a utilização dessa força estipulam que é necessária a coordenação, particularmente por parte do presidente da Comissão da UA, “isto ainda não aconteceu no caso de Moçambique”, reforça o instituto de análise sul-africano.

Em contrapartida, a SADC também só procurou o apoio da UA “quando precisou de financiamento para prolongar o mandato da missão para além dos primeiros seis meses”, sublinha o estudo.

No início deste mês, a SADC recebeu da União Europeia, através do seu Mecanismo de Resposta Rápida, um montante inicial de 2 milhões de euros e espera agora ter acesso ao financiamento do Fundo de Paz da UA, que tem conta com 230 milhões de dólares provenientes de contribuições dos Estados-membros.

Partilhar este artigo