“Fomos mandados para ti matar”: Estudante da UEM raptado conta drama vivido em cativeiro

“Fomos mandados para ti matar”: Estudante da UEM raptado conta drama vivido em cativeiro

O estudante da Universidade Eduardo Mondlane, Agapito, foi raptado por pelo menos três indivíduos “armados e encapuzados”, na noite da quinta-feira (14), no bairro da Polana Caniço, cidade de Maputo.

Conforme relatou, o crime ocorreu próximo ao Instituto Superior Maria Mãe de África (ISMMA), quando procurava comprar sabão para uso individual.

“Fui interpelado por uma viatura preta de alta cilindrada. Não consegui identificar nem a marca ou a matrícula. Vi três homens a saírem do carro, estavam mascarados e à paisana. Fui arrastado. Tentei fugir, mas sem sucesso. Eram homens fortes e estavam armados” contou.

Em entrevista ao Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) disse que foi vedado os olhos e amordaçado a boca. “Não podia ver o ambiente e nem gritar”.

Os raptores o conduziram por cerca de 40 minutos até uma residência. Lá na residência, um quarto indivíduo o submeteu a interrogatório. Quis saber por que razões aderia a manifestações dentro e fora do Campus universitário da UEM, “Tangará”. O comparsa dos raptores avançou que a vítima era um alvo a abater por reivindicar melhores condições de alimentação e criticar o atraso no pagamento de subsídios para os estudantes.

“Eles disseram sim, é por esta razão, esse activismo da sua parte que nós estamos aqui. Fomos mandados por ordens superiores para acabarmos com a tua vida” disse.

A vítima disse ter passado momentos de terror, bem como durante toda a noite não teve assistência alimentar.

No dia seguinte, sexta-feira (15), passou todo o dia vedado, sendo interrogado, ameaçado e abandonado à fome.

“Felizmente, uma das pessoas que ficou ali disse ser de Nampula. Prometeu tentar convencer aos seus colegas de que eu não faço parte do Podemos. Provavelmente, eles pensaram que eu estivesse envolvido, directamente, com essas questões políticas. Vou tentar convencê-los para que saias daqui com vida, porque nós fomos mandados, com ordens superiores, que era para acabarmos com a tua vida” referiu.

A promessa foi cumprida e Agapito foi devolvido, na noite de sexta-feira, para o mesmo local onde tinha sido raptado.

“Quando cheguei à residência vi que todo o mundo estava preocupado. Eles já tinham ido às esquadras e hospitais à procura de mim, mas não me encontraram” disse, notando que relatou o ocorrido aos companheiros.

Entretanto, segundo Agapito, no sábado, um cidadão que alegou pertencer à reitoria da universidade foi à residência universitária o ameaçar a não continuar com o activismo, sob pena de perder a bolsa de estudos ou ser expulso da residência. Foi coagido a redigir uma carta para desmentir o rapto.

“Neste momento estou com medo” confessou.

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