Os graves níveis de fome são a “ponta do iceberg”, e a insegurança alimentar deverá atingir pessoas que não corriam esse risco, afirma Monika Tothova, economista da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).
A especialista em políticas agrícolas e alimentares explicou que, caso a actual crise alimentar global se arraste, muitas famílias perderão poder de compra e precisarão de fazer refeições menos nutritivas e reduzir o número de refeições diárias.
“Os níveis de fome e a emergência são a ponta do iceberg, sendo provável uma deterioração significativa, visto que muitos cidadãos já esgotaram a capacidade de resiliência que tinham”, afirmou Tothova.
“Mesmo as pessoas que ainda não estão em níveis de insegurança alimentar de emergência provavelmente serão afectadas, pois o seu poder de compra diminuirá, precisarão de consumir alimentos menos nutritivos ou saltar refeições, tirar as crianças da escola”, entre outras consequências, avaliou.
Estas possibilidades com- binadas terão impacto na saúde e bem-estar dessas famílias, incluindo no aumento da desnutrição, assim como a perda e o atraso no crescimento das crianças, destacou Monika Tothova.
Entre os países mais afectados, a economista referiu o Iémen, onde cerca de 17,4 milhões de pessoas necessitam de assistência alimentar.
No ano passado o mundo registou mais um pico de fome, segundo a ONU. De acordo com o Relatório Global sobre Crises Alimentares, em 2021 cerca de 193 milhões de pessoas em 53 países/territórios experimentaram insegurança alimentar aguda, um aumento de 40 milhões de pessoas desde 2020.
A guerra da Rússia na Ucrânia perturbou o equilíbrio alimentar global e está a levantar temores de uma crise que já está a afectar, em particular, os países mais pobres.
A especialista da FAO destacou ainda que para se conseguir o financiamento humanitário para assistência vital, incluindo assistência alimentar, seriam necessários mais de 70 milhões de dólares (447.2 milhões de meticais) por mês, citando dados do Programa Mundial para Alimentação.
Focando em possíveis soluções imediatas para tentar travar o problema, Tothova defendeu que diminuir a perda e o desperdício de alimentos poderia melhorar o equilíbrio alimentar, pelo menos parcialmente.
A economista frisou ainda a necessidade de investimento em investigação, desenvolvimento e em capacidade produtiva, apesar de salientar que se trata de uma estratégia de longo prazo, que não é capaz de resolver os problemas rapidamente.
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