A Reserva Federal norte-americana decidiu na reunião desta quarta-feira subir os juros em 50 pontos base para combater a aceleração da taxa de inflação nos Estados Unidos.
Para contrariar a aceleração da taxa de inflação nos Estados Unidos, a Reserva Federal norte-americana decidiu esta quarta-feira subir os juros em 50 pontos base, tal como esperavam os analistas. Esta é a maior subida dos juros desde 2000 e a segunda subida este ano, após ter começado a aumentar os juros em Março. O foco está agora na conferência de imprensa que Jerome Powell, presidente da Fed, dará depois da reunião.
Com esta subida, segundo noticia a Eco Online, a taxa de referência da Fed passa para entre 0,75% e 1%. O objectivo é chegar a um juro entre 2% e 3% — uma estimativa confirmada por Powell, apesar de salientar a incerteza –, o qual é visto como tendo um efeito “neutral” na economia norte-americana, pelo que nas reuniões de Junho e Julho deverá haver mais subidas. A taxa de inflação dos EUA está neste momento acima dos 8%, em máximos de 40 anos.
“O comité decidiu aumentar o seu intervalo de objectivo para a taxa dos fundos federais para entre 0,75% e 1% e antecipa que aumentos contínuos desse intervalo serão apropriados“, afirma a Reserva Federal norte-americana no comunicado divulgado esta quarta-feira.
Isto significa que, tal como esperado pelos analistas, os juros deverão continuar a subir nas reuniões de Junho e Julho. Na conferência de imprensa a seguir à reunião, Jerome Powell confirmou que é do entendimento do comité que “aumentos de 50 pontos base devem estar em cima da mesa nas próximas reuniões”, em particular “nas próximas duas”.
A segunda novidade também prevista pelos analistas e agora confirmada pela Fed é que o balanço do banco central dos Estados Unidos de nove biliões de dólares vai começar a encolher. Num comunicado separado, o Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC) revela que todos os participantes na reunião concordaram que essa redução gradual dos activos (principalmente dívida pública) arrancará a 1 de Junho. Powell admitiu que não há certezas sobre os efeitos deste passo.
Após a decisão da Reserva Federal norte-americana, os mercados financeiros reagiram em alta. Em Wall Street, tanto o Dow Jones como o S&P 500, que tinham arrancado a sessão em terreno positivo, atingiram máximos intradiários, valorizando mais de 0,8% cada.
Quanto ao comunicado da Fed, entre as mudanças face ao texto da reunião de 16 de Março está o reconhecimento de que os confinamentos na China por causa da Covid-19 “deverão exacerbar as disrupções das cadeias de fornecimento” a nível mundial, o que não é exclusivo dos EUA. “O comité está muito atento aos riscos da inflação”, garante, referindo a expectativa de que a taxa de inflação volte a convergir com o objectivo de médio prazo de 2%.
Os membros da Reserva Federal norte-americana notam que o PIB dos EUA contraiu no primeiro trimestre, mas argumentam que tanto o investimento das empresas como o consumo privado “manteve-se forte”. O comunicado dá destaque à melhoria do mercado de trabalho, mas admite que a “inflação mantém-se elevada, reflectindo desequilíbrios da procura e da oferta relacionados com a pandemia, preços da energia elevados e pressões mais gerais sobre os preços”.
Powell acrescentou depois que há sinais de que a inflação terá chegado ao seu pico, mas ressalvou que será preciso esperar por mais dados para confirmar.
Na conferência de imprensa, Jerome Powell explicou que as ferramentas da política monetária não conseguem actuar do lado dos problemas da oferta — fruto da pandemia, agora em particular na China, e da guerra na Ucrânia –, mas consegue acalmar a procura dos agentes económicos, o que ajudará a diminuir o desequilíbrio entre a oferta e a procura. Se a Fed for bem-sucedida, a taxa de inflação deverá desacelerar.
Na opinião do presidente da Fed, em princípio será possível travar a inflação sem colocar a economia norte-americana numa recessão. Powell diz que a economia continua forte, apesar do percalço no primeiro trimestre, e que o mercado de trabalho está muito dinâmico, com quase o dobro das ofertas de emprego face ao número de desempregados à procura de emprego. Este dinamismo deverá dar “espaço” para subir os juros sem provocar uma recessão nos EUA, acredita o presidente da Fed.