Várias organizações humanitárias na província de Cabo Delgado estão a ressentir a falta de fundos para continuar a assistência humanitária há milhares de deslocados, na mesma altura em que se assiste uma nova vaga de deslocados devido a recentes ataques de grupos rebeldes, disseram nesta segunda-feira, 27, várias fontes oficiais.
Cerca de 18 mil pessoas fugiram das suas casas em Junho na sequência de novos ataques de grupos ligados ao Estado Islâmico, aumentando o peso da balança para a assistência humanitária em Cabo Delgado, mas sem meios, várias organizações começaram a lançar apelos para se evitar um colapso humanitário.
“Não estamos agora em condições de poder responder a estas novas chegadas mesmo por conta de fundos”, disse à VOA Manuel Nota, coordenador da Cáritas Diocesana, que apoia deslocados em Cabo Delgado.
O responsável acrescentou que a organização apoiou na evacuação de milhares de deslocados de Ancuabe, que se encontravam na vila de Chiúre para dois centros de acomodação (Meculane e Catapua), sem, no entanto, poder distribuir cestas básicas.
Já em Balama a Cáritas Diocesana ofereceu abrigo a apoiou com alimentos a 30 famílias deslocadas de Ancuabe. A organização teve de repartir os alimentos que estava a distribuir a um grupo alvo para atender as famílias que apenas tinham fugido com roupa do corpo e estavam há vários dias sem se alimentar.
“Tornou-se um grande desafio, temos vindo a receber solicitações, mas porque não temos e não podemos atender, só nos limitamos a lamentar”, frisou Manuel Nota, afiançando que foi doloroso ter visto “tanta gente caminhando com criança pela estrada”, sem poder fazer nada por falta de recursos.
“Muitos financiamentos têm vindo da Europa e temos aquela situação da Ucrânia, grande parte dos doadores estão a tentar dar mão aos irmãos ucranianos, então os financiamentos para Cabo Delgado tende a baixar substancialmente”, explicou o religioso, fazendo notar que é preciso olhar com urgência pela situação humanitária da província.
Por sua vez, Rui Santos, coordenador da Plataforma Makobo, uma instituição de responsabilidade social que actua através da iniciativa “Coração Solidário para Cabo Delgado,” observa que o novo clima de insegurança frustra a implementação dos vários projectos em curso, sobretudo, na componente de meios de subsistências aos deslocados, na medida em que a insegurança aumenta entre os beneficiários.
“Muitos deslocados que estão em Pemba vivem em casa com 40, 70, 80 pessoas, e obviamente as famílias que os acolhem não conseguem fazer face às dificuldades de tanta gente”, anotou Rui Santos, prevendo um novo desafio no acolhimento aos novos deslocados e apelou mais organizações humanitárias para assistirem Cabo Delgado.
“É frustrante não poder garantir essa sustentabilidade (dos projectos implementados), estamos muitos fragilizados com essa situação de insegurança”, observou o ativista social.
O Programa Mundial de Alimentação (PMA) é a única agência humanitária que está a fazer alguma intervenção, na distribuição de “Kits” não mensais para os novos deslocados para minimizar o efeito da fome.
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