Estudantes angolanos do ensino superior marcham pelo retorno das aulas

Estudantes angolanos do ensino superior marcham pelo retorno das aulas

Sem aulas há quase dois meses, estudantes marcharam hoje, sábado para pressionar pelo retorno das negociações. Ministra da tutela descarta anulação do ano lectivo, mas sindicato dos professores mantém reivindicações.

A greve iniciada a 27 de Fevereiro pelo Sindicato angolano dos Professores do Ensino Superior (SINPES) inquieta a comunidade estudantil, que está preocupada com as consequências que a paralisação acarreta.

Para pressionar as autoridades governamentais, o Movimento dos Estudantes de Angolanos (MEA) agendou, para hoje, manifestações de rua a favor do retorno do sindicato e do Governo à mesa de negociações.

“Nós vamos fazer uma série de acções de pressão de rua para ver resolvida a situação”, disse à DW o líder estudantil Francisco Teixeira. “Vamos começar agora no dia 15 de Abril, sábado. Vamos começar com protestos e pedimos a todos os estudantes e interessados para se fazerem presentes, porque é necessário resgatar a Educação das mãos dos vigaristas, da mão dos comerciantes”, afirmou.

O braço de ferro entre o Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Superior e o Ministério do Ensino Superior, Tecnologias e Inovação já é longo, ao ponto de o Governo estar a pensar em soluções alternativas.

Há dias, a ministra angolana do Ensino Superior, Tecnologias e Inovação, Maria Bragança, fez saber que o seu pelouro está a gizar estratégias que passam pela mobilização de docentes que não aderiram à greve, para que continuem a leccionar.

A ministra diz que está fora de questão a anulação do ano académico 2022/2023 no ensino superior: “Não há passagem administrativa e as instituições têm de fazer de tudo, com os docentes que estiverem disponíveis, para o melhor aproveitamento possível dos estudantes. O Governo tem responsabilidades”, afirmou, ponderando também que, “sendo o direito à greve um direito de todos os cidadãos, não podemos impedir a participação na greve”.

Para o líder estudantil Francisco Teixeira, o que o Governo está a fazer é revelador do desprezo com que as autoridades olham para o ensino superior público.

“Primeiro, isso não afecta directamente os governantes, porque é para a camada mais desprovida da sociedade, que é a camada pobre,” afirmou.

“A elite política não está envolvida nesta situação. Os estudantes das elites, os privilegiados, estão ‘na Europa’ e nas universidades privadas em Angola. Não tem filho de ministro, de governante ou de administrador nesta situação. Daí que falta interesse dos governantes em resolver essa situação”, criticou.

Anulação de matrículas

Por alegadas irregularidades, o Ministério do Ensino Superior anulou, recentemente, cerca de 13 mil matrículas de estudantes que haviam frequentado aulas naquelas instituições de ensino superior sem terem sido submetidos a exames de admissão, como está estatuído.

Para Francisco Teixeira, do MEA, a medida do Ministério peca por vir tarde e por penalizar os estudantes que não têm a ver com a decisão das instituições que optaram pela não realização dos exames aos candidatos ao ensino superior.

“O Ministério tem um departamento de inspecção, que não deveria chegar seis meses depois do arranque do ano lectivo e, unilateralmente, sem dialogar com ninguém, cortar o acesso ao ensino dos estudantes, como se fosse uma unidade militar”, defende.

Os professores retomaram, em Fevereiro, a greve por tempo internado por não haver acordo nos pontos considerados fraturantes pelos sindicalistas, como salário básico e um seguro de saúde.

Fonte: DW África

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