O economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) especialista na dívida Chuku Chuku alertou esta quarta-feira, que os países mais pobres podem atingir níveis comparáveis à da crise sistémica dos anos 90 se a tendência actual se mantiver.
Falando numa sessão dos Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que decorrem esta semana na cidade marroquina de Marraquexe, Chuku Chuku, citado pela Lusa, avisou que “a janela para evitar outra crise de dívida sistémica está a fechar-se rapidamente, e é preciso agir agora para evitar que isso aconteça”.
“As vulnerabilidades da dívida nos países de baixo rendimento [LIC, na sigla em inglês] podem chegar a níveis comparáveis aos de meados dos anos 90, a médio prazo, se a tendência actual se mantiver e se não existirem políticas e reformas que resolvam as vulnerabilidades, estas são as más notícias”, disse Chuku Chuku.
Na sessão com o título “Estamos a encaminhar-nos para outra crise da dívida sistémico nos LIC?”, Chuku Chuku respondeu que, apesar das grandes vulnerabilidades da dívida e da forte pressão sentida pelos países mais pobres, entre os quais estão muitos africanos, “os dados comparáveis não mostram que estamos no mesmo ponto que obrigou à Iniciativa de Alívio da Dívida para os Países Pobres Altamente Endividados (HIPC)”, lançada nos anos 90 num contexto de uma crise sistémica da dívida, e “esta é a boa notícia”.
O tema “que deixa os decisores políticos e investidores acordados à noite é os desafios da dívida nos países de baixo rendimento e as acções necessárias para os aliviar”, afirmou o economista da divisão de dívida pública no departamento de Estratégia e Políticas do FMI, numa sessão que encheu uma das maiores salas do local onde se realizam os encontros anuais.
Chuku Chuku disse que os estudos mostram que “10 anos depois um Incumprimento Soberano [‘default’, no original em inglês], o cidadão médio desse país pode ver a sua esperança de vida reduzida em 14 meses”, para vincar que a questão não é apenas financeira e tem impacto concreto na vida das pessoas, já que a dívida desvia recursos que podiam ser usados para investimentos ou para o sector social, como a Educação ou a Saúde.
A dívida pública tem subido de forma consistente na última década, principalmente nos últimos anos, quando o rácio da dívida sobre o PIB global subiu um ponto percentual por ano entre 2010 e 2019 e depois disparou 13 pontos percentuais em 2020, devido aos impactos da pandemia”, apontou o economista.
“A última vez que vimos a dívida a subir assim tão depressa, e com desafios estruturais crónicos, foi no princípio dos anos 90, o que acabou por levar à HIPC, em 1996”, alertou.
No entanto, “apesar dos elevados riscos, as vulnerabilidades da dívida nos países de baixo rendimento, hoje, são menos alarmantes do que eram, em média, em meados dos anos 90”, acrescentou, apresentando como indicador a percentagem de receita fiscal que vai directamente para pagar a dívida, quem em 1994 era de 18%, e que hoje é de 10%, o que compara, por exemplo, com os 60% de receita fiscal que Angola, a maior economia lusófona africana, canaliza directamente para pagar o serviço da dívida pública.
A HIPC foi uma iniciativa lançada em 1996 pelo FMI, Banco Mundial e Banco Africano de Desenvolvimento, que permitiu cancelar 76 mil milhões de dólares, cerca de 71,7 mil milhões de euros, a mais de 40 países em sobre-endividamento.
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