Época chuvosa 2022-2023: Questões frequentes da HCB

Época chuvosa 2022-2023: Questões frequentes da HCB

Tendo em conta a época chuvosa que o país atravessa, a Hidroelétrica da Cahora Bassa (HCB), elaborou algumas questões e respectivas respostas que mais as pessoas desejam saber nesta época chuvosa, e o MZNews, publica na integra a seguir, uma parte destas questões.

 Sabe-se que neste momento é o pico da época chuvosa e está a chover com alguma frequência a jusante da barragem. O que a HCB está a fazer para mitigar cheias ou inundações nos distritos a jusante?

A HCB interage constantemente com a ARA-Centro-IP, entidade responsável pela gestão de Recursos Hídricos do Zambeze em Moçambique, que numa base diária partilha informações da situação hidrológica em todos os pontos de monitoramento de precipitação e dos níveis hidrométricos.

Neste sentido, caso alguma estação hidrométrica esteja em situação de alerta, e mediante acompanhamento de previsões meteorológicas de curto prazo em toda a Bacia do Zambeze e previsão de efluências das barragens de montante (Kariba e Kafue Gorge Lower), a HCB efectua as devidas regulações nas suas efluências por forma a minimizar os efeitos no baixo Zambeze, sem, contudo, comprometer a segurança da barragem. Actualmente, a HCB continua a acompanhar de perto a evolução da situação hidrológica na bacia do Zambeze em Moçambique, com particular destaque para o baixo Zambeze.

A época chuvosa inicia em Outubro, porquê a HCB efectua as suas descargas nessa época em que igualmente há chuvas?

As descargas na HCB são feitas em duas ocasiões. A primeira ocasião é quando à entrada da época chuvosa a albufeira estiver com níveis altos de armazenamento. Neste caso, efectuam-se descargas para criar a capacidade de encaixe de eventuais cheias afluentes no pico da estação chuvosa (Janeiro a Março).

Em observância as Normas de Exploração da Barragem e Albufeira, a cota da albufeira deverá estar em 320.8 m a 31 de Dezembro de cada ano, o que corresponde ao armazenamento de 75% da capacidade útil da albufeira.

A outra ocasião que leva a abertura de descarregadores é quando ocorrem, durante o pico da estação chuvosa, caudais de cheias que não podem ser retidos pela barragem e quando a velocidade de subida da cota é superior a 15 cm por dia. Note que, toda a operação de gestão hidrológica está prevista nas nomas de exploração da barragem de Cahora Bassa.

Porque é que não se fazem as descargas na época seca para que a população tenha água?

A exploração da barragem de Cahora Bassa é feita com base em normas próprias e avaliadas todas as variáveis relevantes a abertura ou fecho dos descarregadores tanto em épocas de chuvas ou de secas. Assim, analisado o plano de produção de energia e as previsões de afluências, em condições normais não se fazem descargas na época seca, pelas seguintes razões:

O regime hidrológico natural do rio a jusante não deve ser alterado significativamente devido a existência da Barragem, devendo garantirse que na época seca tenha caudais baixos e na época chuvosa tenha caudais apropriados, sempre que possível;

Durante a época seca, a água que entra em Cahora Bassa é normalmente inferior a água usada para a produção. Nesta altura, a central da HCB faz uso da água armazenada na albufeira, para a produção de energia;

Adicionalmente, durante a época seca não se tem informação exacta de como será a época chuvosa seguinte, em termos de abundância ou escassez de água, o que faz com que nesse período se evite desperdiçar água.

Notar que a época chuvosa em análise é comunicada pelas entidades meteorológicas competentes com previsões sobre os possíveis níveis de precipitação. Nestes termos, seria imprudente descarregar água da albufeira, útil para o ano hidrológico seguinte, se as afluências forem baixas.

 Quais são as garantias que a HCB apresenta de que as descargas não vão criar cheias e/ou inundações?

A HCB tem um conhecimento profundo sobre o comportamento do rio Zambeze e sabe com exactidão quais os níveis de descargas que podem, eventualmente, provocar “cheias” a jusante. Por outro lado, é importante realçar sobre o conhecimento do leito principal e as respectivas planícies de inundação do rio, locais que, em condições normais, não devem ser ocupados. Nestes casos, prevê-se até que níveis de descargas podem de facto provocar tais “cheias” ou ocupar o seu leito na totalidade.

Adicionalmente, a HCB tem estabelecido uma cooperação sólida com as entidades gestoras de recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Zambeze e, particularmente, em Moçambique, com a Administração 2 Regional de Águas do Centro (ARA-Centro, IP). Assim, todas as descargas realizadas pela HCB são antecedidas de uma concertação com esta entidade.

Todavia, as suas descargas, associadas a outros factores, podem dar lugar a cheias e inundações, daí que as autoridades e as populações são avisadas com antecedência para que se afastem das margens do rio.

Importa realçar que a existência da barragem de Cahora Bassa atenua a ocorrência das cheias que vem de montante, isto é, as cheias no vale do Zambeze seriam piores se a barragem de Cahora Bassa não existisse.

Se a barragem de Kariba efectuar descarregas consideráveis, a barragem de Cahora Bassa está preparada para lidar com grandes volumes de água?

A HCB recebe informações oficias e regulares vindas da entidade gestora da barragem de Kariba, a Zambezi River Authority (ZRA), que indicam se a barragem está ou não a fazer descargas adicionais, para além da água turbinada para a produção de energia.

No entanto, com base em informações oficiais dos volumes afluentes a Cahora Bassa previstos para cada época chuvosa, a HCB elabora um plano de descargas com vista a criar a devida capacidade de encaixe na albufeira. É importante referir, também, que a HCB mantém uma comunicação permanente com a ZRA.

Qual é a relação existente entre Cahora Bassa e Kariba?

A relação existente entre Cahora Bassa e Kariba é de partilha de informação de gestão hidrológica e hidroenergética, feita numa base diária, mensal e pontual, sempre que a situação hidrológica assim o exigir, no âmbito do Comité Técnico Conjunto de Operadores de Barragens do rio Zambeze (JOTC), do qual também fazem parte as entidades de gestão de recursos hídricos do Zimbabwe (ZINWA), Zâmbia (WARMA) e Moçambique (ARA-Centro, IP).

Este comité reúne-se ordinariamente duas vezes por ano e extraordinariamente sempre que haja um assunto pertinente e urgente a tratar. Apartilha de informação é através de boletins contendo informação hidrológica da bacia e da operação das barragens.

Quais são os planos de contingência existentes se a barragem de Kariba colapsasse?

Para atender a este aspecto, está em curso a Elaboração do Plano de Emergência Interno (PEI) da Barragem de Cahora Bassa, alinhado ao Decreto 33/2017 do Conselho de Ministros de 19 de Julho. A base para elaboração deste PEI serão os resultados do recém[1]terminado estudo “Dam Break Analysis for the Zambezi River” elaborado pelo consultor Mott MacDonald (2020). Este estudo analisou os vários cenários de falha de todas as principais Barragens existentes e em projecto, de toda a bacia do Zambeze, incluindo Kariba.

Identificou os cenários mais catastróficos e avaliou as respectivas consequências. O PEI irá dotar a HCB de ferramentas concretas para acção e intervenção em caso de ocorrência de uma situação desta natureza.

Como está a ser feita a articulação para que as descargas da HCB não coincidam com eventuais caudais altos do Revúbuè como aconteceu num passado relativamente recente?

A gestão da bacia hidrográfica do rio Zambeze, do Zumbo ao delta, incluindo para além do rio principal, os tributários, quer a montante, quer a jusante de Cahora Bassa, é feita pela ARA-Centro, IP, com a colaboração da HCB.

A comunicação entre a HCB e a ARA[1]Centro, IP é permanente e a todos os níveis, com uma infalível troca diária de dados. Esta sincronização entre a ARA-Centro, IP e a HCB permite a análise conjunta dos planos de descargas e avaliação dos seus impactos.

Paralelamente, a ARA-Centro, IP estabeleceu níveis de alerta, tanto das chuvas como dos níveis hidrométricos, que ajudam na tomada de decisão sobre quanto e quando se pode descarregar sem que ocorram consequências indesejáveis a jusante.

As populações que estão a montante e a jusante têm informação sobre o plano de descargas?

O plano de descargas, uma vez aprovado pela HCB e validado pela ARA-Centro, IP, é partilhado pelos Governos locais e outros interessados inseridos na Bacia do Zambeze em Moçambique 4 imediatamente antes da intensificação da época chuvosa, durante a reunião do Comité de Bacia do Zambeze de que todos estes intervenientes fazem parte.

Por outro lado, no decurso da época chuvosa, em função da actualização do plano de descargas da HCB, o mesmo é tornado público através da emissão pela ARA-Centro, IP de um comunicado ou aviso sobre os possíveis impactos das descargas nos níveis hidrométricos de jusante e as devidas medidas de precaução a serem tomadas pelas populações e entidades (públicas e privadas) a jusante. Por sua vez, os Governos locais difundem os comunicados e avisos ao nível local.

Portanto, importa informar que em Agosto de 2022, foi emitido o primeiro aviso a comunicar sobre a realização das descargas da HCB, a partir de 1 de Outubro de 2022, e, no dia 13 de Setembro de 2022, foi emitido o segundo aviso, a alertar as populações para a colheita das suas culturas e o consequente afastamento das margens ao longo do rio Zambeze. No presente ano 2023, para o início das descargas da HCB, a ARA-Centro, IP emitiu outro aviso no dia 30 de Janeiro, e no dia 15 de Fevereiro, na sequência do registo de alguma precipitação no Baixo Zambeze, emitiu mais um aviso alertando sobre as consequências esperadas e medidas de precaução a serem tomadas pela população.

O processo de descarga pode ser potencialmente desvantajoso para o funcionamento das turbinas. Como a empresa está a preparar-se para eventuais constrangimentos?

As descargas frequentes (que ocorrem todos anos) não influenciam significativamente o rendimento dos grupos geradores. Todavia, as descargas aumentam a cota na restituição e com isso, a queda diminui e pode afectar a eficiência dos grupos geradores.

Com 8 descarregadores abertos e a central a operar com 5 grupos geradores, a eficiência dos grupos geradores pode cair para cerca de 90%, contra os 95,9% de operação normal. Contudo, esta condição de descarga máxima só é possível em caso de uma cheia natural excepcional ou devido a rotura de barragens a montante. (HCB)

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