A União Europeia (UE) defende energias limpas alternativas e matérias-primas críticas, como a grafite, como vias de desenvolvimento de Moçambique num contexto global de “crescimento verde e digital”.
Esta quinta-feira, a UE garantiu que vai “continuar a apoiar Moçambique com vista a maximizar o potencial” de produção de energias limpas, referiu António Gaspar, embaixador europeu em Maputo, durante a quarta edição da Mesa Redonda Económica UE – Moçambique.
O evento, inserido nas comemorações do Dia da Europa (que se assinalou em 09 de Maio), foi este ano dedicado ao tema “oportunidades para o setor privado face à transição ecológica e social”.
Citado pela Lusa, António Gaspar acrescentou que Moçambique deve, entretanto, poder explorar as suas reservas de gás como recurso de transição.
“O sucesso do pacto ecológico depende do acesso a matérias-primas críticas para a energia limpa. Prevê-se que o consumo destes materiais aumente quatro vezes no caso da grafite, um dos mais abundantes no norte de Moçambique”, realçou António Gaspar num discurso distribuído aos jornalistas e que o próprio sintetizou durante o evento.
A grafite do país está já a ser exportada por privados para os EUA para processamento e montagem em baterias chinesas de carros eléctricos.
“A procura crescente de matérias-primas críticas cria oportunidades para Moçambique, apesar dos riscos de acelerar simultaneamente a devastação ambiental, agravando as mudanças climáticas”, o que requer cuidados com vista a uma exploração sustentável.
“Temos, portanto, de estabelecer uma parceria baseada na exploração sustentável dos recursos naturais”, acrescentou.
Ainda no contexto de equilíbrio, a UE pretende apoiar a agricultura moçambicana a cumprir as normas globais sustentáveis, uma vez que serão “condição de acesso ao mercado europeu”.
“O programa de cooperação UE-Moçambique prevê financiar nos primeiros quatro anos da sua implementação (2021-2024) projectos até 200 milhões de euros na área do crescimento verde e digital”, nomeadamente em protecção natural e dos ecossistemas, transformação ecológica da agricultura, silvicultura e pescas, construção de infraestruturas resilientes (nas áreas de energias renováveis, transporte, água e saneamento) e transformação digital para crescimento inclusivo.
A UE tem outros mecanismos de apoio para fixação de investimentos – a estratégia Global Gateway, lançada na sexta cimeira UE/União Africana – mas Moçambique deve promover “um ambiente de negócios e de investimento propícios”, sublinhou António Gaspar.
A mesma linha de raciocínio foi seguida por Simone Santi, presidente da Associação dos Empresários Europeus em Moçambique (Eurocam), que apontou exemplos de diversos entraves à actividade empresarial.
O empresário pediu ao ministro da Indústria e Comércio, Silvino Moreno, que os funcionários do aeroporto recebam empresários estrangeiros “com um sorriso”, em vez de “complicarem” a chegada, comprometendo o sucesso de investimentos.
A redução de burocracia na circulação doméstica e estabilização de leis, sem mudar regras “a meio do jogo”, foram outros exemplos indicados por Santi – que diz acreditar “no potencial de Moçambique” – e face aos quais o governante disse tomar nota para procurar soluções.
“A UE pode assistir Moçambique” a desenvolver “sectores com potencial de exportação” no novo contexto de crescimento verde, sublinhou Silvino Moreno.
O ministro da Indústria e Comércio apontou como desígnio “consolidar a relação comercial entre Moçambique e a UE”.
Silvino Moreno ouviu ainda as críticas de Adriano Nuvunga, diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental (ONG) moçambicana, que alertou para as contradições políticas internas e a persistência da pobreza da maioria da população moçambicana.
“Industrialização é uma palavra que, em Moçambique, só existe no dicionário”, referiu, acrescentando: “não ouvi a palavra uma única vez no discurso do senhor ministro”.
“Com a população com fome, o debate da economia verde fica apenas para as elites e não será sustentável”, concluiu Nuvunga.