A Parceria para o Fabrico de Vacinas Africanas (PAVM) sugere que o continente africano produza as suas próprias vacinas anti-covid. A ideia prende-se com a necessidade de acabar com os problemas de fornecimento. No entanto, o continente ainda lida com obstáculos para deixar de ser um campo de testes farmacêuticos e criar seus próprios imunizantes.
A meta da PAVM é que 60% das necessidades de vacinas de rotina do continente, ou entre 1,4 e 1,7 mil milhões de doses anuais, devem ser satisfeitas pelo fabrico local até 2040, a partir de cerca de 1% actualmente.
A pandemia da covid-19 já tinha dado sinais suficientes para a necessidade de África produzir as suas próprias vacinas, disseram peritos reunidos, na terça-feira, numa conferência da PAVM no Ruanda. Mas o continente ainda lida com obstáculos assustadores, desde a fuga de cérebros à escassez de energia.
Segundo o coordenador da Iniciativa da Organização Mundial de Saúde para a Investigação de Vacinas, Martin Friede, o continente já tinha produzido muitos investigadores científicos, mas não uma mão-de-obra capaz de conceber e fabricar vacinas.
O responsável instou os líderes políticos e científicos do continente a concentrarem-se na mudança desse conjunto de competências, contrastando com o papel habitual da África no sector farmacêutico.
“Neste momento, África é um tubo de ensaio para muitas empresas farmacêuticas. É aqui que trazemos os produtos para os testar”, disse.
Charles Gore, chefe do Pool de Patentes de Medicamentos apoiado pelas Nações Unidas que procura impulsionar a produção de medicamentos nos países em desenvolvimento, disse que procurar licenças de empresas farmacêuticas noutros locais não era uma solução sustentável para África, uma vez que tinha poucos incentivos para oferecer a essas empresas.
“Ter simplesmente o desenvolvimento feito no mundo desenvolvido e transferi-lo sempre não é uma resposta a isto”, considerou.
Gore também advertiu contra o lançamento de demasiadas iniciativas separadas em todo o continente que correriam o risco de produzir apenas “elefantes brancos”, exortando, em vez disso, os governos, empresas e centros de investigação a colaborarem para criar capacidades complementares.
Oradores de grandes fabricantes de medicamentos e de organismos que fornecem financiamento sublinharam os elevados custos da investigação, desenvolvimento e produção, exortando os países africanos a reunir a procura a fim de incentivar os investidores com escala e visibilidade a longo prazo.
“Os volumes mais elevados e a contratação consistente a longo prazo são fundamentais para fazer este trabalho”, disse Patrick van der Loo, presidente regional da Pfizer para a África e o Médio Oriente.