Como a comunicação social influência as percepções e tendências de voto

Como a comunicação social influência as percepções e tendências de voto

Os cidadãos moçambicanos, cerca de 17 milhões, habilitados para votar, vão às urnas já na próxima quarta-feira, 09 de Outubro. As campanhas eleitoras visando as eleições gerias terminaram ontem, domingo. Durante dois dias, entre hoje e amanhã, os potenciais eleitores poderão revisitar as promessas para decidir em qual partido e candidato votar.

Todos os partidos e candidatos inscritos para o escrutínio tiveram direito a tempo de antena nos canais do Estado. Não obstante, os meios privados de comunicação também divulgaram as agendas e promessas dos concorrentes.

A princípio, pelo menos nos meios estatais de comunicação social, o tempo de antena e a cobertura deve ser equitativa, imparcial e isenta.

Este exercício foi especialmente analisado pelo consórcio eleitoral Mais Integridade, que verificou desequilíbrio nas abordagens, conforme cada partido ou candidato. No geral, o partido Frelimo foi mais “acarinhado” pelos mídias, rádio (uma), televisão (quatro) e jornais (onze — quatro diários e sete semanários), durante as campanhas.

Isto pode ser atestado nas análises semanais publicadas pelo consórcio: na primeira semana foram analisadas 235 peças, em rádio e televisões. Para a Frelimo foram cobertas 57 peças (24.2%); MDM 32 (13.6%); Renamo 31 (13.1%); e Podemos 14 (5.9%).

A mesma tendência se verificou nas semanas subsequentes. Em 1.470 peças analisadas na segunda semana, 32% em jornais e 68% em radiodifusão (rádio e televisão), a Frelimo teve uma cobertura de 29% em radiodifusão, contra 17% da Renamo; 16% para o MDM; e seis porcento para o Podemos. Nos semanários a Felimo teve 38% do total da cobertura, contra 21% para a Renamo, 19% para o MDM; e 18% para o Podemos. Nos diários, a Frelimo teve 42% do total das peças publicadas, seguida da Renamo com 24%, MDM com 18% e Podemos com 11%.

Na terceira semana foram analisadas 2.482 peças informativas, das quais 717 em jornais e 1.765 em radiodifusão. Do total analisado nos jornais, a Frelimo teve uma cobertura de 81%; contra 44% da Renamo; 35% do MDM; e 30 do Podemos. Na radiodifusão a Frelimo possui 30% das unidades analisadas, seguida pela Renamo com 18%, MDM com 17% e Podemos com sete porcento.

Na quarta semana foram analisadas 2.805 peças, das quais 786 nos jornais e 2019 em radiodifusão. Nos jornais a Frelimo dominou a cobertura com 84%; contra 41% da Renamo; 35 do MDM; e 29 do Podemos. Na radiodifusão a Frelimo possui 29% das unidades analisadas; seguida pela Renamo com 17%; MDM com 16% e Podemos com sete porcento.

Na quinta semana foram analisadas 1.894 peças, mais 980 unidades de tempos de antena publicadas na rádio e televisão públicas. Nesta semana, o Mais Integridade não apresentou os dados de análise de mídia como anteriormente.  Entretanto, notou, com clarividência, que “a FRELIMO continuou a ter uma cobertura privilegiada em relação aos outros partidos políticos e, em muitas ocasiões, com elementos que ilustram a intenção dos meios de comunicação fazerem um apoio da candidatura de Daniel Chapo, buscando artimanhas de exclusão dos outros candidatos”. Apontou o caso de, numa televisão, ter passado uma peça do candidato da Frelimo com 12 minutos, quando os da oposição tiveram em média três minutos de antena. Também, na mesma televisão, o facto de não ter sido divulgada a actividade diária de campanha de Venâncio Mondlane.

Na verdade, já tinha sido notado do que o candidato da Frelimo, Daniel Chapo era beneficiado pelas TVs “através do uso de semi-directos, peças longas que oferecem construções e descrições narrativas da sua campanha com tonalidade positiva; o que ocorre poucas vezes na campanha dos partidos da oposição”.

Questionado pelo MZNews sobre como as discrepâncias de tempo de antena e abordagens nos mídias pode influenciar a tendência de votação, o Director Executivo do Misa Moçambique, Ernesto Nhanale, explico que o impacto é apenas ao nível das percepções, positivas ou negativas, sobre o candidato ou partido.

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