Comissão Económica da ONU para África critica liderança do Banco Mundial

A secretária-executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) acusou esta sexta-feira o presidente do Banco Mundial de “falta de brilho”, defendendo que a instituição “tem de desembolsar mais rápido e em muito maior quantidade”.

No artigo publicado no jornal britânico Financial Times e citado pela Lusa, Vera Songwe vai longe na crítica a David Malpass, o presidente do Banco Mundial, e escreve: “a secretária do Tesouro dos Estados Unidos tem de liderar os esforços e forçar a liderança sem brilho do Banco Mundial a estar à altura destes desafios simultâneos e desembolsar [financiamento aos países africanos] mais rápido e em muito maior quantidade”.

O artigo de Songwe, que é, por inerência, vice-secretária-geral das Nações Unidas, surge durante os Encontros da Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que decorrem esta semana em Washington, e exprime a gravidade da situação que os países africanos enfrentam, com várias crises ao mesmo tempo.

“As economias africanas estão a ser atingidas de todos os lados pelo impacto da covid-19, alteração climática, conflito e pelos seus cruéis impactos: terroristas, gafanhotos, inundações e, tragicamente, até fome”, lê-se no artigo.

Para Vera Songwe, a intervenção da secretária de Estado do Tesouro, Janet Yellen, que ocupa o cargo equivalente ao de ministra das Finanças nos governos europeus, será essencial em vários temas, desde logo para forçar mudanças na arquitectura financeira internacional.

“[Yellen] tem de não apenas persuadir os seus pares a pararem de cortar ajuda, mas aumentar essa ajuda devido à crescente insegurança alimentar, e alargar o alívio do serviço da dívida e aprofundar dramaticamente o Enquadramento Comum do G20 sobre a dívida”, disse Songwe.

Defendendo que as instituições de Bretton Woods, criadas depois da Segunda Guerra Mundial, já não são adequadas ao mundo atual, a vice-secretária-geral das Nações Unidas deixou um caderno de encargos, que funciona como um roteiro para a mudança.

“Eis o que é o roteiro, da perspectiva africana: mais voz nas administrações dos grupos financeiros e nos fóruns de decisão, e mais velocidade e volume nos fluxos financeiros”, apontou.

África “é resiliente, mas essa resiliência precisa de investimento e garantias”, continuou lembrando a promessa de canalização de 100 mil milhões de dólares provenientes dos Direitos Especiais de Saque (DES) emitidos no ano passado, e deixando vários pedidos, entre os quais uma nova emissão de DES em mecanismos “que os ministros das Finanças realmente utilizem, e reduzir os custos de capital em investimentos sustentáveis de infraestruturas”.

É preciso, concluiu, “uma reforma e financiamento ambiciosos, porque ainda não é demasiado tarde, mas em breve será”.

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