O historiador e comentador político, Egídio Vaz, afirmou, hoje, que o antigo governante e membro do partido Frelimo, Castigo Langa, levou ao seio da organização política uma situação de crise identitária ao expor publicamente um assunto fora da agenda de debate interno. O analista classificou o teor da mensagem de “mexericos” e sugeriu que “a narrativa perniciosa” fosse enquadrada num outro fórum mais apropriado.
Falando no espaço de comentário da Rádio Moçambique por ocasião da abertura, hoje, do XII Congresso da Frelimo, Egídio Vaz reagia ao facto de aquele membro do Comité Central ter se pronunciado sobre um terceiro mandato de Filipe Nyusi à Presidência da República. Isto aconteceu durante uma plenária do partido onde este assunto estava fora de agenda.
Sucede que, numa carta posta a circular nas redes sociais esta semana, Castigo Langa apela ao actual presidente da Frelimo – já confirmado candidato único a sua sucessão no partido – e Chefe do Estado moçambicano (PR), Filipe Nyusi, a não enveredar para um terceiro mandato à frente dos destinos dos moçambicanos. Segundo Langa, Nyusi poderá lidar com “consequências imprevisíveis para o país, com elevado potencial de descambarem em tragédia, e será o camarada presidente a sujar as mãos”.
A Comissão Política da Frelimo emitiu um comunicado a repudiar o facto de Langa levantar um assunto fora da agenda no decurso da II Sessão Extraordinária do Comité Central e ainda por publicar o seu teor.
Convidado a comentar sobre o assunto, Egídio Vaz disse que Castigo Langa desrespeitou a agenda e, ao divulgar o conteúdo da sua elocução, demonstrou falta de percepção entre o que é de fórum fechado e aberto.
“O engenheiro Castigo Langa entendeu partilhar com maior público aquilo que ele dissera dentro da sessão da plenária o que é contra as regras combinadas. O debate foi fechado e não era para consumo público”, começou por dizer o historiador.
Ele referiu também que a atitude de Langa foi um erro de cálculo porque se sobrepôs à força do partido.
“Ele calculou mal tendo colocado o seu interesse acima dos interesses do partido, [nomeadamente] a imagem, credibilidade, honra, todas as sua obras, inclusive do presidente do partido” disse.
No seu entender, o repúdio da Comissão Política está “devidamente” enquadrado e “visava chamar a atenção, não só a ele, mas também a todos os outros que pensam por si e não pelo grupo”.
Mais adiante, e repetidas vezes, disse que a suposta ideia de Filipe Nyusi em candidatar-se a um terceiro mandato presidencial “é mexerico”.
“Ele, como membro do Comité Central do partido Frelimo, assumiu o papel do difusor do mexerico, que é, de todo, reprovável. Nessa perspectiva, ele trouxe uma situação de crise identitária no partido”, destacou Vaz.
O analista anuiu que o assunto poderá ser analisado a nível dos órgãos disciplinares do partido e que, na verdade, em todo esse alarido, está em causa o cumprimento da Constituição da República (CR) por parte de Filipe Nyusi, se optar por renovar o seu mandato como PR.
“O Presidente jurou fazer cumprir a constituição e até agora não existe, nem de forma concreta ou indirecta, nenhuma indicação de um interesse em torpedear os comandos constitucionais”, revelou, aplaudindo a postura de Nyusi em “não responder a mexericos”.
Egídio Vaz disse existirem pessoas que projectam um terceiro mandato e querem, forçosamente, que o PR se pronuncie sobre mexericos. “Querem que o PR comente a uma quimera”.
Apesar disso, Vaz reconheceu a liberdade de cada membro do Comité Central expor seus pensamentos, indicando que no caso de Castigo Langa houve uma precipitação.
“Julgo que os pronunciamentos de Castigo Langa devem ser enquadrados numa outra arena de disputa da possibilidade de influenciar os próximos processos electivos. Existem grupos de interesse e é perfeitamente normal”, assumiu.
A Frelimo, no poder desde a independência, em 1975, tem maior número de assentos na Assembleia da República. Isto permite ao partido aprovar uma modificação na CR e, por via disso, manter Filipe Nyusi no poder por mais anos.
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