O MISA Moçambique, ONG de defesa da liberdade de imprensa no país, diz que o recrudescimento dos ataques armados, em Cabo Delgado, zona norte, voltou a subir o tom das ameaças contra jornalistas envolvidos na cobertura do conflito.
A organização aponta os pronunciamentos mais recentes do governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, proferidos no último sábado, 17 de Fevereiro.
Falando a jornalistas, momentos apos a cerimónia de lançamento das actividades desportivas no projecto “Desporto para Paz”, na cidade de Pemba, Vilige Tauabo terá dedicado cerca de dois minutos para fazer ameaças veladas ao trabalho da imprensa.
“Durante a sua intervenção, o governador de Cabo Delgado chegou a acusar a classe jornalística de reconhecer apenas os valores de terroristas em detrimento dos valores da população e das Forças de Defesa e Segurança (FDS)”, refere o comunicado de imprensa do MISA a que o MZNews teve acesso.
Indignado, o MISA considera que pronunciamentos como os do governador Valige Tauabo devem ser considerados preocupantes, “sobretudo num contexto em que a hostilidade das autoridades contra o jornalismo independente já levou a detenção de vários jornalistas e ao desaparecimento de pelo menos um repórter, em Cabo Delgado”.
“Num país com uma forte cultura de autoritarismo e militarização, pronunciamentos como os do governador Tauabo podem encorajar a tomada de medidas de risco contra jornalistas, sobretudo pelo sector da defesa e segurança”, refere o MISA na sua nota.
O MISA lembra que as recentes ameaças a jornalistas surgem numa altura em que a situação de segurança voltou a se degradar, com os grupos armados que actuam na província a protagonizarem uma série de ataques, sobretudo nos distritos do Sul da província e na zona costeira do distrito de Macomia.
O MISA diz ainda no seu documento que a história dos ataques de Cabo Delgado mostra que, nos momentos mais críticos do conflito, as autoridades moçambicanas encontram, no jornalismo, um dos elos mais fracos para atingir, muito por conta da necessidade de garantir baixo nível de prestação de contas sobre os verdadeiros acontecimentos.
O MISA lembra ainda que um dos papéis centrais do jornalismo, em sociedades democráticas, é reportar acontecimentos de interesse público, incluindo tragédias como a que se abate sobre Cabo Delgado, há mais de seis anos.
“Reportar sobre ocorrência dos ataques não é reconhecer valores terroristas em detrimento de valores da população e das FDS, como sugere o governador de Cabo Delgado. É, pelo contrário, prestar um serviço público de interesse público, que é manter o país e o mundo e, em primeiro lugar, a população das zonas afectadas, informados sobre os acontecimentos à sua volta, ainda mais acontecimentos que colocam em causa vidas humanas”, esclarece a organização.
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