As autoridades moçambicanas impediram, no sábado, a realização de uma marcha contra a onda de raptos que assola as principais cidades do país, uma iniciativa que estava a ser promovida pela Associação Médica de Moçambique, disse este domingo à Lusa fonte oficial.
“Como estabelece a lei, nós enviamos às autoridades cartas para lhes comunicar a realização da marcha, mas não houve resposta. Fomos colhidos de surpresa no dia da realização da marcha com um cordão policial altamente armado para impedir a nossa manifestação”, disse Napoleão Viola, secretário-geral da Associação Médica de Moçambique.
Com a marcha, que devia começar na sede da organização, na avenida Eduardo Mondlane, e terminar na Praça da Independência, a Associação Médica de Moçambique pretendia manifestar o seu repudio contra a onda de raptos, bem como deixar uma mensagem de solidariedade para com uma das vítimas: o médico Basit Gani, raptado há mais de uma semana na capital do país.
O contingente policial destacado para impedir a marcha apresentou à associação um documento assinado pelo presidente do município da cidade de Maputo, Eneas Comiche, indeferindo a iniciativa, embora legalmente não tenha competências para autorizar ou não a realização de uma manifestação, segundo a Associação Médica de Moçambique.
“Uma marcha não tem de ser autorizada porque é um direito constitucional. Nós, os organizadores, temos apenas o dever de comunicar as autoridades e foi o que fizemos”, declarou Napoleão Viola.
A Lusa tentou, sem sucessos, obter um esclarecimento do Conselho Municipal da Cidade de Maputo e da Polícia da República de Moçambique.
Apesar do episódio, a Associação Médica de Moçambique avançou que vai continuar com acções para exigir o fim da onda de raptos no país e a localização do médico Basit Gani.
“A associação não vai parar enquanto o nosso colega não for localizado. Trata-se de um médico jovem, membro da associação e que cumpre com as suas tarefas ao nível da sociedade. Ele merece a liberdade e, tal como outros, viver em segurança neste país”, declarou Napoleão Viola, que acrescenta que a organização já escreveu cartas para o Presidente da República, Filipe Nyusi, e para o Ministério do Interior exigindo medidas concretas para travar estes crimes.
Além de médico, Basit Gani é vice-presidente da Associação Moçambicana de Empresários e Empreendedores Muçulmanos.
No dia em que o médico foi levado à força, também o empresário Nazir Tadkir foi raptado em Maputo.
As principais cidades do país têm sofrido com uma onda de raptos que afecta principalmente empresários ou os seus familiares.
Na sexta-feira, o filho mais velho do presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), Salimo Abdula, foi raptado, embora este último caso tenha ocorrido na África do Sul, segundo a imprensa local.
O Presidente da República anunciou em Dezembro a possibilidade de criação de uma unidade policial anti-raptos para combater a onda de crimes que se regista nas principais cidades.
No sábado, a CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique, a maior entidade patronal moçambicana, exigiu mecanismos concretos para travar a onda de raptos no país, disponibilizando-se para apoiar o Governo materialmente para melhorar a eficiência das autoridades no combate aos crimes.
Agência Lusa