A agência de notação financeira Fitch Ratings considerou há dias que o aumento das infecções de covid-19 em África prejudica a análise do continente do ponto de vista da qualidade do crédito soberano até, pelo menos, 2022.
“Uma nova onda de infeções de covid-19 em vários países africanos, exacerbada pela variante Delta, aumentou o risco de reveses económicos para análise da qualidade do crédito em África, e o progresso lento na distribuição de vacinas vai persistir pelo menos até 2022”, lê-se numa análise da Fitch Ratings.
No comentário sobre o impacto da pandemia nos países africanos, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta agência de rating detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions escrevem que “os governos do continente deverão continuar a evitar impor um confinamento generalizado, mas as medidas de contenção, como o fecho de bares e restaurantes que existe na África do Sul desde 28 de Junho, podem acontecer em vários países”.
A capacidade de impor restrições mais duras “é fraca na região e as restrições são impopulares”, apontam os analistas, vincando que os factores estruturais como os baixos níveis de penetração tecnológica ou o emprego formal impedem a adopção de medidas como o teletrabalho ou a utilização do comércio digital.
A diretora da Organização Mundial de Saúde para África disse na quinta-feira que o continente africano teve “a pior semana desde o início da pandemia”, com uma subida de 20% dos casos, e avisou que a situação vai piorar.
Em conferência de imprensa, Matshidiso Moeti alertou que nos últimos sete dias até 4 de Julho, o número de casos no continente africano subiu 20% e considerou que, devido à disseminação da variante Delta, a situação deve piorar, havendo 16 países em que o vírus está a ganhar terreno.
“Tivemos 251 mil novos casos, um aumento de 20% face à semana anterior e 12% face ao pico de Janeiro”, disse Moeti, vincando que “os novos casos aumentaram pela sétima semana consecutiva e estão a duplicar-se a cada 18 dias”.
Sobre o financiamento das economias, a Fitch Ratings diz que “a pandemia continua a colocar riscos descendentes aos ratings da região”, mas aponta que, por outro lado, “os efeitos tornam o financiamento externo por parte de fontes bilaterais ou multilaterais mais fácil”.
O comentário, emitido na mesma altura em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou a emissão de 650 mil milhões de dólares em Direitos Especiais de Saque (DES), aponta ainda que os efeitos recessivos da queda do preço do petróleo e da diminuição da procura de importantes parceiros comerciais, como a China, esbateram-se.
“Mais recentemente, o aumento dos preços das matérias-primas mostrou-se positivo para a posição externa dos países exportadores de matérias primas”, apontam, usando o exemplo de Angola para sublinhar que “o risco associado às receitas do Governo deverá suplantar o impacto orçamental das novas infecções por covid-19 este ano”.