“Aquecimento global está intensificar as ondas de calor nos oceanos” – alertam cientistas

“Aquecimento global está intensificar as ondas de calor nos oceanos” – alertam cientistas

As ondas de calor nos oceanos triplicaram em duração desde a década de 1940, uma consequência directa da crise climática impulsionada pelo uso de combustíveis fósseis.

O alerta é de um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, que aponta não só para a crescente frequência e intensidade destes eventos extremos, como também para os impactos devastadores que estão a provocar nos ecossistemas marinhos e no clima global.

Segundo uma publicação do jornal Negócios, a investigação, considerada a análise mais abrangente até à data sobre o impacto das alterações climáticas nas ondas de calor marinhas, revela que estas atingem agora, em média, quase 50 dias por ano — comparados com os cerca de 15 dias registados por ano na década de 1940. “Em algumas regiões, como o Oceano Índico e o Pacífico Ocidental, esses episódios chegam aos 80 dias anuais”, aponta o estudo.

“É uma sensação assustadora. aqui no Mediterrâneo, estamos a enfrentar ondas de calor marinhas que chegam a ser 5° graus mais quentes do que o normal. Quando se entra na água, parece mais uma sopa quente do que o mar. É uma sensação assustadora”, relata Marta Marcos, cientista e investigadora do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados, em Espanha.

Segundo o estudo, mais da metade das ondas de calor marinhas registadas desde o ano 2000 não teriam ocorrido sem o aquecimento global. Estes eventos são, em média, 1°C grau mais quentes do que os que ocorriam no passado — embora em regiões específicas os valores possam ser substancialmente superiores.

O fenómeno afecta particularmente as pradarias de ervas marinhas e recifes de coral, essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos, e fornece mais energia para tempestades tropicais intensas que não se limitam a áreas costeiras, mas que avançam para zonas interiores.

“As elevadas temperaturas nos oceanos fornecem também mais energia para a ocorrência de tempestades mais intensas, que acabam por afectar não só as comunidades costeiras, mas também as zonas interiores”, alerta Marta Marcos, acrescentando que “oceanos mais quentes contribuem para uma maior quantidade de vapor de água, o que resulta em chuvas mais fortes e tempestades mais severas”.

O estudo destaca ainda que os oceanos, que até agora absorveram cerca de 90% do calor extra gerado pelas emissões de gases de efeito estufa, estão a perder capacidade de actuar como tampão climático. “Ao termos oceanos mais quentes, leva a que estes absorvam em menor quantidade as emissões de dióxido de carbono (CO2), o que leva a que as temperaturas do planeta aumentem”, explica.

Esta conclusão é sustentada por dados recentes: segundo o Copernicus Climate Change Service, 2023 foi o ano com os oceanos mais quentes desde que há registos, com a temperatura média da superfície oceânica (excluindo regiões polares) a atingir 21,1°C em Agosto. Este aumento recorde supera os níveis registados durante o forte El Niño de 2016. Além disso, dados do IPCC indicam que mais de 93% do calor adicional gerado pelo aquecimento global foi absorvido pelos oceanos entre 1971 e 2018. O calor está, inclusive, a penetrar até aos 2000 metros de profundidade, alterando correntes e ecossistemas submersos.

Perante estas evidências, os autores do estudo alertam para a urgência de uma acção global coordenada. “À medida que as temperaturas globais continuam a subir, as ondas de calor nos oceanos tornar-se-ão ainda mais comuns e intensas. É necessária uma ação climática urgente para protegermos os ecossistemas marinhos e, em última instância, a vida na Terra”, aponta Xiangbo Feng, da Universidade de Reading e coautor da investigação.

O consenso científico é claro: para travar esta escalada, é essencial reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa. “Mais de 90% do calor extra que estamos a gerar é armazenado nos oceanos, por isso, se conseguirmos parar de aquecer a atmosfera, também vamos parar de aquecer os oceanos”, conclui Marta Marcos.

 

(Foto DR)

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