Numa estratégia pensada para dissuadir as manifestações de rua em protesto e contestação aos resultados da votação de 09 de Outubro, o Comandante-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, convidou, na manhã desta quinta-feira, para uma conversa à mesma mesa, a estrutura dirigente do Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), entidade política que suportou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane.
Segundo uma publicação do media Fax, depois de um longo discurso inicial em que Bernardino Rafael condenou, criticou e apelou para se parar com as manifestações e, a haver, que estas sejam pacíficas, foi cedida palavra ao presidente do PODEMOS, Albino Forquilha, que, mesmo recorrendo a uma linguagem bastante diplomática e de conciliação e aceitação, não deixou de reiterar a essência da luta que o partido, o seu candidato presidencial e toda a oposição estão a levar a cabo.
Reiterou que a questão de fundo é a luta pela justiça. No caso de forma específica, pela justiça eleitoral, que se diz ter sido colocada em causa pelos resultados que foram sendo divulgados pelos órgãos eleitorais, cuja composição é dominada pelo partido no poder, a Frelimo. Nisto, reiterou que toda a Polícia pode pedir ao PODEMOS e a seus membros, simpatizantes e a toda a toda a população. Mas há uma que não deve a Polícia pedir. Que se pare de lutar.
“O PODEMOS não incentiva violência nenhuma, mas incentiva lutar pela justiça. Isso sim. Lutar pela justiça. Este é o foco do processo. Esperamos que o Conselho Constitucional (CC) tome uma decisão justa e não encobrir injustiças”, explicou Albino Forquilha, sublinhando que “seria injusto dizer ao povo moçambicano que não pode manifestar perante injustiças. Aí também estaria a violar a Constituição da República. Se estamos descontentes, temos de nos manifestar, mas não façamos isso violentamente”.
Em maior parte do seu discurso, Albino Forquilha reiterou a ideia de manifestações pacíficas até que o que considera “verdade eleitoral” seja reposta, neste caso, pelo Conselho Constitucional.
Forquilha foi buscar várias histórias do passado para exemplificar a necessidade de luta permanente sempre que alguém sente os sinais de injustiça. Para ele, mesmo o massacre de Mueda, em 1960, teve lugar porque a população tinha ido pedir justiça, mas o sistema colonial, assim não atendeu, daí a razão que fez com que decidisse pela chacina da população civil e indefesa.
Entretanto, depois daquele episódio, os moçambicanos não deixaram de lutar, daí o início, em 1964, da insurreição geral armada, que fez com que Moçambique e os moçambicanos alcançassem a independência, em 1975.Ao longo de muito tempo, recordou, os guerrilheiros da Frelimo eram e foram chamados vândalos e terroristas, mas não desistiram de lutar à busca da justiça.
Colocando-se na posição de entrevistador e buscando respostas que pudessem desvalorizar o sentido de se manifestar por longos e ininterruptos sete dias, Bernardino Rafael quis saber, de Albino Forquilha, se as pessoas poderiam ir trabalhar.
À pergunta, Albino Forquilha respondeu positivamente e justificou que não se pode, no seu todo, paralisar-se a economia nacional, tendo em conta a necessidade de cada um e de forma diária, produzir-se o pão de sustento familiar. Entretanto, ressalvou que tal não impede e nem significa que as manifestações e as marchas vão cessar.
A luta, segundo disse, tem em vista a salvaguarda e reposição da justiça eleitoral. Enquanto tal não for consumado, as marchas e manifestações de rua devem continuar, como aliás, ficou acordado na sessão conjunta do dia anterior, que definiu uma frente comum e conjunta da oposição contra os resultados eleitorais que dão vitória esmagadora a Frelimo e ao seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
Albino Forquilha reiterou a ideia de que entre ele, o PODEMOS e o candidato presidencial, Venâncio Mondlane, não existe qualquer situação de falta de sintonia em relação às linhas de luta.
(Foto DR)
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