Especialistas em saúde dizem que o continente africano deve preocupar-se em assegurar a sua própria segurança sanitária através da adopção de novas formas de fazer saúde pública, conforme um artigo publicado na revista cientifica Nature.
“É um imperativo para a segurança e a sobrevivência económica da África”, dizem Christian Happi e John Nkengasong.
Os autores argumentam, no artigo publicado a 3 de Janeiro, que a pandemia da covid-19 veio clarificar a necessidade urgente de África alcançar a autossuficiência em segurança sanitária. Um dos alicerces e que o continente ainda esta a lutar para vacinar a sua população com a primeira dose enquanto países de outros continentes já estão a administrar doses de reforço.
Os líderes africanos estão a lidar com uma escolha difícil, – o continente deve abraçar novas formas de fazer saúde pública ou arriscar o fracasso em enfrentar as ameaças de doenças infecciosas do século 21 e alcançar os ambiciosos objectivos de desenvolvimento da Agenda 2063 da União Africana.
Nos primeiros meses da pandemia de covid-19, a resposta de África foi “notável”, dizem Happi e Nkengasong.
A África obteve “ganhos surpreendentes” em vigilância e capacidade de resposta à saúde pública e foi “um actor fundamental na aquisição de conhecimento científico que orientou a resposta global” à covid-19, segundo os autores.
Desde a convocação de uma reunião de emergência dos ministros da saúde africanos poucos dias após o primeiro relatório de covid-19 em África para definir uma estratégia conjunta, passando pelas medidas imediatas tomadas pelos países africanos para conter a propagação do vírus, e reuniões em curso em nível continental para coordenar a resposta, a resposta do continente tem sido rápida e colaborativa.
Essas acções, “estão em contraste com a inflexibilidade vista em outras partes do mundo”.
Os autores dizem que a resposta rápida e as acções coordenadas tomadas em todo o continente foram, pelo menos, parcialmente responsáveis pela taxa de mortalidade relactivamente baixa observada em África.
O número de casos de covid-19 e mortes em todo o continente contrasta, até hoje, com as previsões iniciais de que até 70 milhões de africanos poderiam ser infectados até Junho de 2020, com mais de 3 milhões de pessoas que poderiam morrer.
No entanto, apesar de África ter um “papel-chave na aquisição de conhecimento científico que tem orientado a resposta global”, o continente está agora atrás do resto do mundo.
“Cerca de 47% das pessoas foram totalmente vacinadas globalmente, e muitos países do mundo estão a dar mais uma dose (de reforço) aos seus cidadãos. No entanto, a África ainda está a lutar – alcançou a cobertura total em apenas cerca de 7% das pessoas elegíveis”, dizem os autores do estudo.
Embora o multilateralismo sempre seja crucial para responder a epidemias e pandemias, em última análise, “a dependência da África do mundo exterior sustenta uma falta de confiança na África – tanto dentro quanto fora do continente”, dizem Happi e Nkengasong.